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Editorial
Temos o prazer de anunciar a publicação de mais um número da e-metropolis. A condução de nossa política editorial sempre se orientou por princípios democráticos, pela transparência, pela diversidade temática e por diferentes olhares sobre os quais as cidades e o mundo que as envolve podem ser observadas. Com este novo número, continuaremos cumprindo nossos objetivos de comunicação e divulgação da produção científica sobre o urbano e o regional no Brasil, esperando contribuir para a construção de cidades mais justas, em um momento especial de renovação de nossas esperanças democráticas.
No artigo que abre este número, intitulado “As cidades dos galpões: dinâmica e contradições da urbanização logística”, Nelson Diniz e Pedro Gonçalves refletem sobre o impulso dado pelo e-commerce na criação de centros de distribuição e condomínios logísticos em diferentes cidades do Brasil. Além das contribuições conceituais sobre uma questão emergente e relevante para o debate urbano contemporâneo, o artigo analisa dados e informações para chamar a atenção para os impactos e contradições da chamada urbanização logística nos mercados imobiliário e de trabalho no país.
Em “O direito à cidade e a práxis bolsonarista: os efeitos da inflexão conservadora na política urbana brasileira”, Renata Salles traça uma síntese das políticas urbanas e seus efeitos através da análise das ações implementadas nos anos 2000, mas, especialmente, a partir de 2016, nos governos Temer e Bolsonaro. Nas conclusões, o artigo aponta que as políticas de caráter redistributivo implementadas por governos anteriores a esse período foram comprometidas, causando uma ruptura no processo de desenvolvimento e inclusão social que estava em curso, se configurando como um processo de desmonte do aparato social brasileiro.
No artigo intitulado “Pichações Metropolitanas: o comportamento espacial dos grupos de pichadores na RMBH-MG”, Erick Vinicius Lopes e Alexandre Diniz exploram a presença e os rastros da prática da pichação em três importantes centralidades da RMBH-MG: Hipercentro de Belo Horizonte, bairro Eldorado, em Contagem, e bairro Esperança, em Ribeirão das Neves. Os resultados da investigação indicam que o comportamento espacial desses atores está estreitamente conectado ao contexto metropolitano, utilizando-se dos seus principais eixos viários de integração, portanto, os canais da metropolização, para espalhar as suas marcas e estabelecer a sua presença nas centralidades metropolitanas estudadas.
No artigo seguinte, “Renda Básica e inclusão financeira em tempos de crise: o caso da moeda social digital em Maricá-RJ”, contamos com a contribuição de Maria Fernanda Fontenele e Hipólita Siqueira, que abordam o caso da moeda social digital em Maricá-RJ para refletir sobre percurso da renda básica no Brasil, e como as moedas sociais podem auxiliar no processo de inclusão financeira, principalmente em tempos de crise. A partir de estudo bibliográfico, as autoras refletem sobre o modelo de transferência de renda através da iniciativa da moeda social digital Mumbuca, implementada na cidade de Maricá, no estado do Rio de Janeiro.
Já no artigo “Construir comunidade: a instrumentalização de ferramentas educacionais enquanto configuração de um imaginário territorial coletivo”, Julia Silveira e Gabriel Barth da Silva discutem as dificuldades e entraves na criação de uma percepção compartilhada de pertencimento coletivo em comunidades vulnerabilizadas, principalmente em justaposição da coesão de grupos estabelecidos hegemônicos.
Na Seção Especial deste número, denominada “Ensayo visual sobre Usera, el castizo barrio chino y latino de Madrid”, João Pedro Silveira-Martins trata dos desdobramentos sociais da pandemia de Covid-19, refletindo criticamente sobre a constituição de bairros com inspiração étnica e sobre certos fetichismos em torno de culturas estrangeiras que, muitas vezes, aparecem como “selos” de diversidade em cidades globais.
Encerramos este número 49 com o ensaio fotográfico “A resistência do simbólico: o Setor de Ervas no Mercado Ver-o-Peso, em Belém, como território da reprodução da cura e dos anseios de felicidade em meio urbano”, de Gabriela Rios. Ao expressar a imagética do setor, a autora destaca que as práticas que trazem significado ao território dos vendedores de cheiro e que guiam a produção dos seus artigos, se inserem em um contexto de reprodução de saberes populares, tradicionais e ancestrais, de modo que esse território se configura de forma a contrariar a racionalidade urbana colonial que guia a normatividade das formas de vida na cidade.
Queremos encerrar a apresentação deste número agradecendo autoras, autores, leitoras e leitores que contribuem e motivam a existência da revista. Assim, não podemos deixar de registar que os resultados das urnas no último pleito eleitoral no país é uma mensagem de alento e de esperança, após quatro anos de ataque às Universidades e à Ciência no Brasil.