Editorial

nº 46 ano 12 | Setembro 2021

Com este número, trazemos mais uma contribuição da e-metropolis para a discussão no campo dos estudos urbanos e regionais. Perspectivas diversas unem artigos com temas relevantes e atuais, como geografia do voto em contexto metropolitano, arte de rua, memória e identidades urbanas em áreas industriais inativas, entre outros.

Iniciamos o número 46 com o artigo de Lindijane Almeida, Terezinha Barros, Raquel Silveira e Larissa Marinho, que trata da disputa eleitoral e a gestão metropolitana em Natal, Rio Grande do Norte. Ao identificar a existência de “deputados metropolitanos” e analisar sua atuação legislativa, as autoras encontram a ausência de identidade metropolitana entre esses atores políticos eleitos, e aponta para a existência de ações paroquiais que se contrapõem à necessária coordenação em benefício da gestão e do reconhecimento de uma questão metropolitana.

No segundo artigo, Carolina Lima aborda o relacionamento entre a produção do espaço urbano e a produção da arte urbana nas cidades contemporâneas, a partir de uma revisão teórica sobre o tema e a análise de três casos latino-americanos: Medellín, na Colômbia, São Paulo e Belo Horizonte, no Brasil. As conclusões do artigo apontam que a arte consegue denunciar as contradições resultantes da produção do espaço, ao mesmo tempo que as reações a ela aprofundam tais contradições.

No artigo “Espaços industriais inativos: valorização da memória e identidade urbanas a partir do conceito ‘terrain vague’”, Carolina Galeazzi, a partir da observação da demolição de uma fábrica no subúrbio carioca, evidencia a necessidade de questionar a renovação da cidade, considerando a ruptura com o passado e a constante ocupação de espaços vazios. Assim, o artigo busca também fomentar a discussão sobre os espaços industriais e a valorização da memória como identidade da paisagem e da vida urbanas, através da análise de três renovações em contextos industriais diferentes. Suas conclusões indicam que manter os vazios urbanos não quer dizer preservar o abandono, mas que é importante pensar o desenvolvimento local a partir da sua história e, assim, consolidar sua identidade.

Com o título instigante “A cegueira espacial da justiça: o papel do Poder Judiciário para a promoção de remoções em obras de urbanização”, o artigo de Ana Carolina Tavares e Ana Cláudia Cardoso posiciona o Poder Judiciário como agente da operacionalização de intervenções de urbanização do PAC na Bacia do Tucunduba, em Belém (PA). As autoras partem da investigação do papel do Poder Judiciário ao ser chamado a resolver conflitos entre Poder Executivo e populações a serem removidas, seja quando há falta de acordo em relação às compensações ou quando ocorrem ocupações irregulares em áreas já desocupadas ou em conjuntos habitacionais semifinalizados. Partindo de evidências empíricas e documentais, do diálogo com técnicos de órgãos públicos e com a população ameaçada de remoção, além da análise de processos judiciais, as autoras demostram que o direito à propriedade se sobrepõe a outros direitos e que a judicialização dos casos contribui para a estigmatização dos ocupantes e para um número crescente de remoções.

Encerrando a seção de artigos, Arthur Zanella, em “Metrópoles em camadas: os rastros da Tramway Cantareira no Jaçanã”, busca verificar se o antigo eixo ferroviário entre o centro de São Paulo e seu aeroporto internacional deixou rastros dessa modalidade de transporte sobre as vias que hoje ocupam seu lugar no bairro do Jaçanã. Por meio de uma cartografia fotográfica e comparativa, dos usos e formas urbanas, o artigo demonstra a perenidade desses rastros como hegemonia de escalas nas vias.

A cidade enquanto lugar fundante da democracia é ponto de partida para a convidativa análise desenvolvida por Robert Pechman no texto da Seção Especial. Para além de reflexão livre sobre a relação entre a dimensão política da democracia e a vida urbana, Pechman busca uma maneira de ver como essa dimensão se manifesta na cidade, no que ele chama de filigranas, nos comportamentos cotidianos e banais, que são tão bem representados pelas narrativas literárias e que expressam de maneira veemente a condição humana na cidade. Trata-se de um olhar para a “pequena urbanidade”. Na verdade, mais que um olhar, trata-se de saber o que nos conta a cidade quando esta resolve abrir a boca e bate à nossa porta dizendo: não é ninguém, é a cidade!

Fechamos este número com o Ensaio Fotográfico de Luiz Henrique Oliveira, que expressa sua busca pela arte de rua enquanto uma expressão da luta pelo direito à cidade em Curitiba. Mais do que marcas da arte na cidade, as imagens, segundo o autor, representam fronteiriças: nas fronteiras entre a apropriação e o entendimento, entre a fruição e o registro, entre o pensar e o sentir, entre a ciência e a arte, entre a realidade e a representação, entre o pesquisador e o cidadão, a criação e a destruição, o permanente e o efêmero, os fixos e os fluxos.

Finalizamos mais este número da Revista Eletrônica de Estudos Urbanos e Regionais e-metropolis agradecendo a todos os autores, leitores e colaboradores, que vêm contribuindo ao longo dos mais de dez anos de existência da publicação. Em especial, agradecemos ao autor de capa deste número, o artista, arquiteto e urbanista, Renato Mãozão!

Desejamos uma excelente leitura!