Editorial

nº 23 ano 6 | Dezembro 2015

Iniciamos a e-metropolis 23 com uma reflexão sobre os meios, vetores e veículos de ação para o planejamento territorial no Brasil – esse “enorme espaço-mosaico em movimento”, “simultaneamente dinâmico, heterogêneo e desigual”, como o descreve o professor Carlos Brandão.  O artigo Transformar a provisão de bens e serviços públicos e coletivos nos espaços urbanos e regionais do Brasil traz uma estimulante discussão sobre as escalas espaciais de análise e ação a serem construídas no país e a necessidade de políticas consistentes de provisão de bens e serviços em seus espaços urbanos e regionais, sobretudo aqueles mais carentes e com maior destituição de direitos e serviços coletivos.

Mais adiante, trazemos um texto que considera a importância dos estudos multidisciplinares sobre a violência para o desenvolvimento de políticas públicas. No artigo Geografia do crime: estudo do Índice de Violência Criminalizada - IVC e da tipologia sociespacial, o professor Pablo Lira faz uma análise da distribuição espacial da violência urbana no município de Vitória, buscando estabelecer uma correlação entre as estatísticas criminais e a organização social do território.

Em Índice de bem-estar urbano no município do Rio Grande, RS, a geógrafa Bianca Reis Ramos avalia a qualidade de vida e infraestrutura urbana no município do Rio Grande, a partir das dimensões de mobilidade, condições ambientais, condições habitacionais, atendimento de serviços coletivos e infraestruturas. A análise feita não pretende representar de forma estática a complexa dinâmica social do município, mas sim busca retratar a tendência de distribuição do bem estar no espaço, demonstrando a importância da utilização de indicadores sociais para o planejamento urbano.

Uma significativa parcela da literatura crítica tem mostrado que, para o capitalismo, as cidades se resumem a uma mera mercadoria e que a luta de classes se expressa e materializa no espaço urbano. A cidade é produzida coletivamente, mas apropriada por uma pequena parcela da população, aumentando cada vez mais a desigualdade e criando uma massa de sujeitos que tem negado o seu direito à cidade: o precariado urbano. Assim, o artigo de Thiago Canettieri e William Azalim do Valle, Dos excluídos da cidade à revolução urbana – definições de um novo sujeito político, pretende contribuir para o entendimento do processo de despossessão a que os trabalhadores urbanos são submetidos e apontar para a abertura de possibilidades de mudança a partir da própria cidade.

Em seguida, o ensaio fotográfico Cidade do avesso, de Maria João Gomes, Madalena Corte-Real e Marianna Monte, apresenta registros de uma estética quase invisível em Lisboa. Suas fotografias surpreendem por descortinar espaços escondidos, inesperados, discretos e íntimos, em uma poética que se aproveita de linhas retas e curvas presentes nesses instantâneos do lado de dentro e do ordinário da vida, estabelendo uma relação silenciosa, implícita e tensa com a espetacularização urbana, mesclando aparentes oposições entre urbano/rural e presente/passado.

Na seção especial, o professor Pacelli Teodoro faz um relato sobre as motivações que o levaram a acompanhar o cotidiano de três ocupações urbanas em Minas Gerais e seus respectivos personagens. Foi assim que nasceu a ideia do documentário Isidoro – quando o discurso dissimula o cotidiano (2014), que ilustra as contradições e as controvérsias que se estabelecem entre as questões ecológicas, preservacionistas e o direito à moradia. Em Ocupações urbanas e retratos cotidianos, as imagens dão rosto às moradoras e aos moradores que protagonizam esse embate por mais direitos. Flagrados por um momento, esses rostos nos olham enquanto olhamos para eles. Suas vozes podem até ecoar dentro de nós. São rostos que expressam o suor e a dor da luta por direitos, mas, acima de tudo, são rostos que transbordam esperança.

Na entrevista A cidade latino-americana em seu labirinto, o professor Emilio Pradilla Cobos fala sobre uma série de questionamentos que permeia as metrópoles da América Latina na sua fase neoliberal. O caráter labiríntico, neste caso, se reflete nas diferentes temáticas percorridas por Cobos para explicar a dinâmica das nossas cidades, com especial atenção à (re)concepção dos espaços públicos e sua relação com o capital imobiliário financeiro, elemento preponderante nas políticas públicas atuais, especialmente naquelas oriundas de governos vistos como progressistas.

Voltemos à esperança – eis uma palavra valiosa. Com ela, encerramos esse editorial. E é também com essa palavra, com esse sentimento, que procuramos terminar este ano e dar boas-vindas a 2016. Aproveitamos para agradecer as pessoas que leem e divulgam a e-metropolis, as que a seguem em sua página na internet e nas redes sociais, as que submetem seus trabalhos, enfim a todas e a todos que têm tornado este um lugar de reflexão e ação.

Boa leitura! Boas festas!