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Representações fronteiriças da cidade:
A arte de rua como direito à cidade em Curitiba
Por Luiz Henrique Rubens Pastore Alves de Oliveira
As imagens deste ensaio foram produzidas ao longo de dois anos da minha pesquisa de mestrado em Geografia na UFPR (de 2014 a 2016), na qual me dediquei a entender a arte de rua enquanto uma expressão da luta pelo direito à cidade em Curitiba (PR). O ensaio é uma seleção entre muitos registros de fotografias rotuladas como “aleatórias”, tiradas com celular e em momentos diferentes dos trabalhos de campo ou entrevistas da pesquisa. Entretanto, talvez elas tenham sido as imagens que mais contribuíram para a compreensão não apenas da pesquisa, mas também da cidade, o que me faz refletir sobre os limites das pesquisas, do método, da ciência. Acredito que estas imagens trazem consigo a vivência da dinâmica da cidade que eu procurei entender teoricamente: fotografias tiradas com o celular, às vezes embaçadas, tremidas ou mal enquadradas; na correria do dia a dia, em uma rápida pausa na pedalada ou na volta de encontros etílicos noturnos; registros feitos sem a devida atenção à luz, às sombras e à composição da imagem como um todo. Enfim, hoje elas me parecem representações fronteiriças: nas fronteiras entre a apropriação e o entendimento, entre a fruição e o registro, entre o pensar e o sentir, entre a ciência e a arte, entre a realidade e a representação, entre o pesquisador e o cidadão, a criação e a destruição, o permanente e o efêmero, os fixos e os fluxos. Em tempos de pandemia, isolamento social e obscurantismo, olhar para estas imagens é um anseio pelas ruas, mas também uma maneira de revisitar a vida urbana e a sua qualidade de encontro, de conflito, de devir, de possível.