nº 37 ano 10 | Junho 2019
Especial

A cidade onde envelheço

Por Rachel Tegon de Pinho

Neste texto tomo por empréstimo o título e algumas questões abordadas no filme A cidade onde envelheço, para refletir sobre as relações entre memória e cidade, tema este que há muito desperta o meu interesse e o de pesquisadores de várias áreas, sobretudo no campo das humanidades.

O filme, uma produção Brasil /Portugal de 2016, é um convite para percorrer uma cidade por meio da intimidade cotidiana de duas estrangeiras e traz à tona várias questões relacionadas ao humano e ao urbano: amizade, saudade, novidade, afetos, experiências, lembranças, estrangeirismos e pertencimento e, ainda, encontro, desencontro, conflito, solidão, liberdade e busca. Estas questões evidenciam a multiplicidade contida nas cidades e na relação desta com o eu e na subjetivação presente nesta relação.

Assisti ao filme, numa noite de verão, há pouco mais de um ano num cinema quase vazio de minha cidade, embalada em algumas cenas pela música Soluços, de Jards Macalé. Ao sair do cinema, a parte central da cidade ficou totalmente às escuras, e essa escuridão engoliu os prédios da porção central de Cáceres (MT), cidade onde passei minha adolescência e que posteriormente escolhi viver, no final dos anos 1990, transformando, ainda que momentaneamente, o que antes era familiar num lugar que eu não conseguia reconhecer, o que me causou um grande desconforto. Logo me dei conta que este desconforto foi provocado pelo filme rodado em Belo Horizonte, cidade onde acontece o reencontro de duas amigas de infância, ambas já adultas, onde uma delas mora e onde a outra vai passar uma temporada indefinida.

A cidade onde envelheço
Rachel Tegon de Pinho
racheltegon@gmail.com
é bacharel, mestre e doutoranda em História pela UFMT/Cuiabá-MT. Professora assistente da UNEMAT/Campus Cáceres/MT. Autora do livro Cidade e Loucura Ed. UFMT/Central de Texto, 2007.