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Gentrificação e turistificação em Lisboa:
da financeirização das políticas urbanas à luta urbana
Com Luís Filipe Gonçalves Mendes e Heitor Vianna Moura
Alfama, Lisboa, 2018. De longe é possível escutar o ruído das malas que se arrastam pela rua dos Remédios, assim como a conversa em alemão daqueles que buscam pelas ruelas o alojamento que servirá de morada provisória durante sua estadia. Antes deles, turistas italianos haviam passado a bordo de um tuk-tuk e um grupo de espanhóis percorria o bairro na companhia de um guia. Se antes a invasão de turistas era sentida apenas no período das férias de verão europeias, hoje a multidão de visitantes faz parte do cotidiano do tradicional bairro lisboeta, que se transforma para recebê-los. Os antigos casarios foram reformados e adaptados para o alojamento turístico, as tradicionais tascas passaram a apresentar o menu em diversos idiomas, os mercadinhos locais começaram a aceitar cartão de crédito de bandeira internacional e as lojinhas de souvenir se multiplicaram.
Só no ano de 2017, Lisboa recebeu mais de 4,5 milhões de turistas, feito que foi comemorado pelos investimentos que atraiu, pelos empregos que gerou e pelas oportunidades de negócio que promoveu. Nem todos, no entanto, parecem estar satisfeitos com a situação. Entre os descontentes, se destacam aqueles que, depois de décadas morando e trabalhando nos bairros históricos e centrais, se veem obrigado a entregar suas casas e seus negócios para os turistas e investidores estrangeiros. A insatisfação é percebida nas conversas cotidianas, nas palavras de ordem grafadas nos muros – “Stop Despejo” e “Tourist go Home” – e nas denúncias da população autóctone veiculadas nos meios de comunicação.
Para conversarmos sobre o fenômeno que assola diversas capitais turísticas do mundo, o pesquisador Luís Felipe Gonçalves Mendes do Instituto de Geografia e Ordenamento do Território da Universidade de Lisboa nos recebeu no seu gabinete no dia 20 de julho de 2018. Com uma larga experiência em pesquisas sobre gentrificação, regeneração urbana e turistificação e uma ativa participação em movimentos sociais que lutam pelo direito à habitação e à cidade, o geógrafo apresenta ao público brasileiro uma análise rigorosa sobre as dinâmicas do capitalismo global, os efeitos locais da gentrificação turística e as possibilidades de luta e de resistência. As ilustrações, por sua vez, foram cedidas por coletivos atuantes na cidade – Habita, Morar em Lisboa, Stop Despejo e Lisboa Does Not Love – ou capturadas pelo entrevistador.