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Natureza urbana
Por Renato Tamaoki
Este ensaio dá sequência a meu trabalho de prática e reflexão artística por meio da fotografia digital, que aborda questões técnicas e poéticas relativas especificamente à montagem e à narrativa gráfica por meio do gênero da fotografia de rua.
Natureza urbana fala da minha cidade, cuja materialização fotográfica deriva diretamente de minha percepção sensorial e vivência pedestre do espaço público urbano. Ao dizer minha, me refiro diretamente ao que vivo na parte central da cidade de São Carlos-SP, por onde cotidianamente caminho e fotografo há alguns anos.
Dessa minha percepção ambiental da cidade deriva um argumento ficcional que me permite olhar o ambiente urbano a partir de uma noção fisiológica de sua materialidade. De tal modo, olho e fotografo a cidade como se ela fosse um corpo biológico, heterogêneo, pulsante e persistente. Passeio por ela e ali identifico a manifestação dos suores, escarros, varizes, erupções e outras pistas de um corpo sujeito à ação do tempo, impregnado de sintomas que condicionam sua própria aparência a uma incontável sorte de formas e tonalidades. Nessa minha cidade viva, o persistente embate entre artifício e natureza nunca foi tão potente, configurando uma paisagem urbana que exala calmaria, um senso de permanente espera e uma latência funcional na materialidade das coisas.
Mobilizo nesta investigação a expressão da ideia de urbanidade, conceito que tomo emprestado do universo da Arquitetura e do Urbanismo. Por meio desse conceito, infiltro e expresso meus próprios olhares sobre a cidade. Para o contexto deste trabalho, a urbanidade é efeito de uma disputa franca e livre de sentidos de mundo entre um conjunto de indivíduos; é o choque permanente de visões distintas e particulares de mundo, que definem, a partir desse embate, a existência de um espaço múltiplo em significados e interpretações.