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Desvios, sinais, percursos e atravessamentos:
uma experiência no transporte coletivo carioca
Por Julia Sant’Anna G. de Rezende e Lise Bastos
Diariamente, sou eu a personagem – no meio de tantas outras – descrita por Lefebvre. Me desloco entre a casa, o trabalho, os pontos de ônibus, terminais, estações e as demais atribuições da vida. Faço e refaço percursos quase sempre no interior de veículos lotados e precarizados. Para encontrar formas de agenciar e reinventar o conjunto das circunstâncias entranhadas na experiência de ir e vir, desviar do cansaço físico e mental ou simplesmente passar o tempo entre esperas e engarrafamentos: observo, escrevo, rabisco. A prática vem da adolescência, quando passei a me locomover sozinha e percebi que era possível escrever e desenhar em movimento. Com o tempo, fui desenvolvendo um olhar etnográfico atento à experiência urbana, à dimensão do território usado e vivido, aos corpos, seus lugares, histórias e temporalidades. Hoje, é em um lugar de transição entre o ser usuária-passageira e o ser urbanista -pesquisadora – onde observo e sou observada – que escrevo. Registro versões e perspectivas de cenas cotidianas que falam sobre os acasos e encontros, afetos e atritos, mas, sobretudo, falam sobre os fenômenos urbanos. Este texto é uma compilação de oito fragmentos de cenas urbanas capturados, entre janeiro e maio de 2018, em diferentes transportes coletivos cariocas. Foram selecionados pela maneira como me atravessaram e ainda atravessam. São cenas escritas na velocidade e na voz da rua e, se lidas com cuidado, desvelam múltiplas facetas da cidade do Rio de Janeiro. Apropriado para ler em trânsito.