nº 23 ano 6 | Dezembro 2015
Especial

Ocupações urbanas e retratos cotidianos

Por Pacelli Henrique Martins Teodoro

Ao amanhecer do sol daqui da Terra, famílias abrem os olhos, despertam-se com a água no rosto, animam-se com um cafezinho e, só assim, encaram mais um dia de luta pela frente, até chegar a noite, quando retornam à moradia e descansam para outro dia de rotina. Já nos finais de semana, toda a força coletiva é dirigida para a realização de um sonho: a construção da casa própria e/ou, ainda, a ajuda solidária à vizinhança, a fim de consolidar sua comunidade. Todavia, o medo se faz diariamente presente, perante o cessar repentino deste sonho pelas forças externas, articuladas em torno da hegemonia do poder capitalista e legitimadas por preconceitos históricos.

Na região do Isidoro, entre Belo Horizonte e Santa Luzia, em Minas Gerais, o dia a dia de pessoas que moram em três ocupações urbanas, a saber, Vitória, Esperança e Rosa Leão, não se distancia muito da atual e dura realidade nacional e seu déficit habitacional absoluto somado em 5.792.508 domicílios (Minas Gerais, 2014), ao menos por um relevante diferencial: batalhas diárias de cidadãs e cidadãos para fazer cumprir seu direito constitucional à moradia, por não aceitarem o ônus excessivo do aluguel nem se sujeitarem à coabitação familiar. E os retratos cotidianos desta mobilização civil são ocultados, abafados, calados, enfim, dissimulados por discursos público-privados, uma parceria que visa a desmobilizar a organização social e prosseguir com a produção da cidade pelas práticas mercadológicas e empresariais.

Ocupações urbanas e retratos cotidianos
Pacelli Henrique Martins Teodoro
phmteodoro@hotmail.com
é licenciado, bacharel e doutor em Geografia pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Professor Adjunto da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).