Editorial

nº 45 ano 12 | Junho 2021

Chegamos à metade de 2021 ainda afastados de nossos locais de trabalho. Alunos, professores e pesquisadores há mais de um ano e meio não se encontram mais nas salas, nos corredores e no café. Com uma pandemia longe do fim e com as mesmas preocupações sanitárias que tomam conta de nossas vidas desde março de 2020, os encontros para um cafezinho parecem uma realidade ainda distante. Substituir tais lugares onde surgem e fluem as ideias por espaços virtuais não tem sido tarefa fácil. É nesse contexto que lançamos o número 45 da Revista de Estudos Urbanos e Regionais e-metropolis, com a certeza de que dias melhores virão.

Abrimos este número com o artigo Smart City na Disputa pela Hegemonia Digital, de Teresa Mendes, que explora como o tema da Smart City se relaciona a questões de domínio geoeconômico e geopolítico, tendo como pano de fundo políticas de Estado que visam orientar o desenvolvimento tecnológico, não apenas para a digitalização de serviços urbanos, mas abarcam também uma disputa pelo captial, pelas tecnologias e pelos recursos naturais. No texto, a autora ainda chama a atenção para o fato de que isso se dá em um processo de reconfiguração do domínio sobre os países, em que a tecnologia tem papel central e em que a informação é chave na definição de poder.

No artigo Quem são os jovens ‘nem-nem’ na Região Metropolitana do Recife, Antonia Pereira e Silvana Nunes de Queiroz, traçam o perfil demográfico e socioeconômico do jovem ‘nem-nem’ residente na Região Metropolitana do Recife (RMR), estimando a probabilidade de estar em tal condição. Além de mostrar quem são esses jovens, os resultados revelam a predominância feminina, da raça/cor parda, solteiro(a), residente com os pais, com ensino médio completo ou superior incompleto e baixo rendimento domiciliar per capita. Sendo que as autoras encontram que a escolaridade (cada ano a mais de instrução), é a característica que mais contribui para diminuir e/ou deixar de estar nessa situação.

No terceiro artigo do número, A Cidade Nova e o Mangue, entre renovação e vazios urbanos: o papel do Estado na produção de desigualdades socioespaciais, André Bezerra trata do bairro na área central do Rio de Janeiro, alvo de várias intervenções ao longo da história e que tiveram como resultado a produção de uma malha urbana desarticulada e repleta de vazios. Além disso, o artigo argumenta que a promoção da remoção de populações estigmatizadas e criminalizadas, caracteriza o Estado como agente promotor de desigualdades espaciais, em um contexto de consolidação de um projeto de cidade alinhado à lógica de acumulação do capital.

No artigo seguinte, Joaquim Miranda Maloa, aborda os principais desafios da urbanização moçambicana contemporânea. Intitulado Como Fortalecer a Implantação de Infraestruturas e Serviços Urbanos em Moçambique para o Desenvolvimento Urbano, o artigo mostra que no país, dada sua condição periférica e subdesenvolvida, o crescimento urbano ocorre sem o fortalecimento de infraestrutura e serviços urbanos que garantam conquistas mínimas em termos de qualidade de vida.

Finalizando a seção de artigos deste número, Dora Nathália Teixeira, em Vazios urbanos na Avenida Brasil: ocupação para fins de habitaçao nas ruínas fabris, trata do reaproveitamento de ruínas de antigas fábricas para fins de moradia, com o olhar para as adjacências da icônica Avenida Brasil, na cidade do Rio de Janeiro, buscando apontamentos sobre diversas questões que envolvem a implementação de políticas públicas dessa natureza.

Na Seção Especial deste número, a autora Viviane Amorim Costa reflete sobre a relação de proximidade entre o ofício do planejador urbano e o exercício criativo, problematizando a possibilidade/necessidade de se imaginar cenários ideais, tão comum a profissionais criativos.

Por fim, encerramos o número 45 com o Ensaio Fotográfico Narrativas pandêmicas e espaciais: a produção do espaço da cidade dentro e fora dos sujeitos em Montes Claros/MG, de Vinícius Corrêa Araújo e Gustavo Souza Santos. O duplo olhar sobre a cidade de Montes Claros durante a pandemia busca captar não só suas paisagens fixas transformadas recentemente, mas também a mobilidade persistente em meio aos temores e inseguranças dos protocolos de flexibilização.

Desejamos uma excelente leitura!