Editorial

nº 43 ano 11 | Dezembro 2020

Chegamos à última edição da e-metropolis de 2020. É em meio à tristeza e à indignação que este ano vai acabando. Continuamos resistindo esperançosamente, (re)constituindo redes de solidariedade, acreditando e lutando para que a frase “tudo vai passar” se realize. Foi um ano de muitas perdas: mais de 180 mil vidas ceifadas pela COVID-19, grandes áreas verdes desmatadas, direitos sociais em vias de desfazimento, superprecarização do trabalho, entre outras. As conquistas, mais do que nunca, devem ser comemoradas, e foi assim que festejamos (separados, mas juntos de alguma forma) os 10 anos de publicação ininterrupta de nossa revista. Agradecemos, portanto, às pessoas que contribuíram para isso: leitores, autores, pareceristas e ilustradores. Agradecemos a todas e todos!

Iniciando a leitura da 43ª edição, como destaque, temos uma interessante discussão que articula as relações entre sexualidades não-heterossexuais, comércio e consumo no artigo “Dinâmicas e processos de transformação urbana em Milão: finalmente um “gay district”?”. Tomando como recorte empírico um bairro de Milão (Itália), Giuliana Costa e Andrea Barcellesi mostram como a presença LGBT+ articula e rearticula, influencia e é influenciada pelas metamorfoses nos espaços de lazer.

Em seguida ao artigo de capa, temos cinco trabalhos que dialogam com aspectos concretos e simbólicos do urbano. Em “A formação da colônia israelita e as formas simbólicas espaciais”, Enderson Albuquerque e Miguel Angelo Ribeiro investigam a constituição da presença judaica em Nilópolis (RJ) e suas influências na dinâmica territorial. A relação entre as políticas de remoção de favelas e o processo de metropolização carioca, em termos de distribuição populacional e fragmentação e segregação espacial, é a questão analisada por Vivian Gomes no texto “O remocionismo e seus reflexos na metropolização do Rio de Janeiro”. E ainda, sobre o tema da metropolização, agora em Salvador, Heibe Santana da Silva e Gilberto Corso Pereira tecem uma análise sobre a distribuição espacial de infraestrutura, equipamentos e serviços de modo a avaliar os graus de justiça espacial, como nos mostra o artigo “Índice de justiça espacial na Região Metropolitana de Salvador”. Além destes, são apresentados escritos que se debruçam sobre as formas de racionalidade presentes e que dão sustentação ao capitalismo, e, em última instância, às subjetividades contemporâneas. Em “Da jaula de aço à fabricação do homem-empresa”, Gustavo Vitti apresenta um breve panorama sobre as transformações operadas no âmbito da lógica capitalista, destacando as formas de condução de condutas, que vão da ética protestante (em Weber) até o empresariamento de si (em Dardot e Laval). No último artigo deste número, Germano Coelho e Fabiana Saddi discutem a política de regularização fundiária, implementada pela Agência Goiana de Habitação (Agehab), no bairro São Domingos, em Goiânia, utilizando como método process-tracing do tipo explicação de resultado, além de entrevistas com agentes públicos e atores comunitários.

Na seção especial, temos o trabalho feito por Paul Melo e Castro, intitulado “Mais-Valias em Trier”. Em visita a esta cidade alemã, o autor faz uma interessante reflexão sobre as relações entre turismo e cidade, valendo-se do cruzamento entre a fotografia de rua e o turismo enquanto práticas visuais. Finalizando esta edição, Erica Modesto e Fernando de Souza nos apresentam o ensaio fotográfico “(Ocup)ação urbana e seu desdobramento habitacional”, no qual registram as formas de morar em uma ocupação do Movimento de Trabalhadores Sem Teto (MTST), em Aracaju (SE), prática integrante da luta pelo direito à cidade.

Para terminar, aproveitamos a oportunidade para os votos de boas festas, com os devidos cuidados sanitários, e para expressar nosso desejo de que o ano vindouro fortaleça nossos sentimentos mais bonitos. Que 2021 chegue para renovar as nossas utopias, o otimismo, a esperança e a nossa vontade de que o mundo seja um lugar mais justo, mais solidário e melhor para todas e todos.