Editorial

nº 42 ano 11 | Setembro 2020

No editorial da primeira e-metropolis, publicada em maio de 2010, escrevemos que aquela iniciativa se tratava de um passo rumo à concretização do objetivo de democratizar o acesso e a divulgação do conhecimento acadêmico no âmbito dos Estudos Urbanos e Regionais. Estamos, hoje, com a publicação do número 42, dando mais um desses passos com a certeza de que, mais do que concretizar esse objetivo, esses passos foram dados para abrir caminhos. A condução da e-metropolis sempre foi orientada por esse objetivo, mas também fundamentada na ideia de diálogo e de abertura às contribuições de outras áreas do conhecimento. 

Com o número agora publicado, reforçamos essa política editorial com um agradecimento especial a todas e todos que nos acompanharam na construção desse caminho ao longo dos últimos 10 anos. Fica um agradecimento especial à Paula Sobrino, profissional de design responsável pelo desenvolvimento da identidade visual da revista e da diagramação de todos os números, e também a todos os artistas que nos presentearam com as ilustrações incríveis que compõem nossas 42 capas e ajudam a contar nossa história.

No artigo de capa desta edição, contamos com a colaboração de Matheus Bartholomeu, Regina Tunes e Sandra Lencioni, com o artigo Megarregião Rio de Janeiro–São Paulo e o surto de COVID-19: desigualdades espaciais no contexto da globalização. Neste artigo, os autores buscam compreender a disseminação espacial do surto de COVID-19 no território definido como megarregião Rio de Janeiro (RJ) – São Paulo (SP), através da análise dos dados de óbito por essa doença até 10 de junho de 2020.

No artigo Austeridade fiscal, financeirização e saneamento urbano: notas preliminares a um debate necessário, Lucas Hungaro e Renan Almeida tratam de um caso de déficit histórico da provisão de serviços de saneamento e sua articulação com o processo de financeirização do setor. A partir do caso da COPASA-MG, a análise traz evidências sobre como a austeridade fiscal, aliada ao avanço da financeirização, pode acarretar uma diminuição nos investimentos no setor de saneamento.

Também com a financeirização como pano de fundo, Lorenzo Valfré e Marcelo Ribeiro se debruçam sobre transformações nas estratégias da incorporação imobiliária residencial presentes em anúncios imobiliários. Dessa forma, no artigo intitulado Um jeito de morar ou de investir? Transformações nas estratégias da incorporação imobiliária na era da financeirização, os autores apontam para a primazia de informações financeiras em detrimento de informações de projeto e, em suma, da sobreposição do valor de uso da moradia por seu valor de troca.

Com o artigo A contribuição das estratégias de mobilidade corporativa (sustentável) no âmbito do planejamento urbano, Carolina Grangeia, Luan Santos e Nelio Pizzolato trazem a discussão sobre as novas estratégias empresariais que buscam a sustentabilidade e a gestão da mobilidade como diferencial de mercado, acreditando nos potenciais benefícios destas estratégias por meio do desenvolvimento de um Plano de Mobilidade Corporativa.

No artigo, A Sociedade do Espetáculo e a cidade contemporânea: apontamentos para uma leitura geográfica de Guy Debord, com o qual encerramos nossa seção de artigos desta edição, Rodrigo Fernandes e Ulisses Fernandes visitam a obra do teórico francês para discutir sua importância para cidades atuais, suas idealizações, bem como suas configurações mercadológicas de molde capitalista. 

A relevante obra Construir e Habitar: Ética Para Uma Cidade Aberta, de Richard Sennett, é objeto da resenha produzida por Rogério Rodrigues, que destaca a importância da reflexão deste autor para a compreensão de nossas cidades para além da questão instrumental.

Nesta edição, temos o prazer de publicar uma entrevista com Jamie Peck, um dos mais influentes geógrafos da atualidade. Nesta entrevista, realizada por Fernanda Pernasetti, o professor titular do Departamento de Geografia da University of British Columbia (UBC) fala sobre a influência da cultura teórica flexível e não-dogmática da geografia crítica sobre o seu pensamento, que se destacou por abordar o tema do neoliberalismo a partir de um forte compromisso com o trabalho empírico. Ele ressalta a importância de se investigar as formas com que a hegemonia neoliberal conseguiu se reconstruir, enquanto um modo de “governança de emergência”, que não existe sozinho, mas está profundamente arraigado em outras estruturas de poder.

No texto, As concertinas na cidade: sobre hospitalidade e hostilidade em Belo Horizonte, Fábio Tozi, professor da UFMG, reflete sobre a expansão e o uso de concertinas dentro do debate acerca das estratégias e do mercado de segurança, bem como o papel regulador do ente municipal, apoiando-se em um conjunto de imagens que ilustram a estética militarizada da paisagem belo-horizontina.

Encerramos este número com as imagens do ensaio fotográfico Presentear com o “inútil”: a cidade, o espaço e o tempo. Nele, Thais de Almeida Gonçalves reflete sobre formas de se perceber os usos da cidade para além das exigências de produtividade e da mercantilização, através de uma leitura de uma intervenção no espaço público, que busca justamente subverter, mesmo que simbolicamente, estas lógicas.

Por fim, agradecemos todas as autoras e autores que contribuíram com a construção deste número e convidamos todas e todos a colaborarem com o projeto coletivo da e-metropolis, através da submissão de seus trabalhos.