-
Tweets
Editorial
Expansão metropolitana baseada no turismo, diálogos geracionais em um bairro suburbano, políticas habitacionais e mercado imobiliário, participação e insurgência. Com esses temas, encerramos 2019 com mais um número da revista e-metropolis, cumprindo nossa missão de trazer diferentes abordagens e temáticas sobre espaços urbanos diversos.
No artigo de capa dessa edição, intitulado “O fenômeno da segunda residência e sua dimensão espacial em território alagoano – 1980 e 2010”, Miguel Ângelo Ribeiro, Paulo Rogério de Freitas Silva e Maria Monica O’Neill trazem uma análise da expansão urbana em Alagoas, a partir da região metropolitana de Maceió, em direção ao litoral norte e sul do estado. Analisando o fenômeno da segunda residência a partir da comparação dos dados dos Censos de 1980 e 2010, em perspectiva com as históricas transformações econômicas e de infraestrutura de mobilidade na região, os autores trazem interessantes reflexões sobre a relação entre o crescimento das casas de lazer-veraneio da população metropolitana e a expansão de municípios da Costa dos Corais e Rota Ecológica dos Milagres (como Paripueira, Maragogi e Barra de São Miguel), destinos turísticos alagoanos cada vez mais conhecidos em todo o Brasil.
O professor Orlando dos Santos Júnior, em “Participação e Insurgências: ideias para uma agenda de pesquisa sobre os movimentos sociais no contexto da inflexão ultraliberal no Brasil”, destaca a trajetória recente de inflexão conservadora na política brasileira, apresentando seus reflexos sobre os espaços institucionais de participação social relativos, principalmente, à política urbana, amplamente desmontados ou desmobilizados a partir de 2016, nos dois últimos governos federais. Diante disso e apoiado em referências teórico-críticas, o autor sugere quatro embocaduras para a agenda de pesquisa em torno dos desafios e das possibilidades de resistência dos movimentos sociais no contexto dessa mudança conjuntural.
Felipe Cruz Akos Litsek investiga um modelo de gestão da propriedade e garantia de moradia acessível, ainda inexistente no Brasil, em “A experiência dos Termos Territoriais Coletivos na promoção de moradia acessível e resistência à mercantilização da terra”. Considerado um mecanismo de segurança da posse da terra e promoção da moradia para pessoas de baixa renda, o termo coletivo pretende garantir a permanência das comunidades, evitando processos de remoção forçada e coibindo a mercantilização da terra.
No artigo “Conexões, influências, proximidades e isolamentos entre mercados imobiliários formais e informais na Região Metropolitana de Belo Horizonte”, de autoria de Hamilton Moreira Ferreira, é feita uma problemática sobre as inter-relações mercadológicas inerentes ao tema. Por meio de estudos de casos, é explorada a heterogeneidade dessas relações e as influências que fatores conjunturais exercem no setor imobiliário formal e informal, por suas similitudes e diferenças de variáveis. Além disso, são observados os impactos diretos que as políticas habitacionais e de crédito imobiliário exercem sobre a moradia.
Na resenha dessa edição, Roberta Filgueiras Mathias aborda a coletânea “Memórias, territórios, identidades: diálogos entre gerações na Região da Grande Madureira”. A obra resulta de uma pesquisa do Museu Afrodigital sobre o bairro carioca de Madureira, e reúne, em suas encruzilhadas analíticas, a perspectiva de diversos autores sobre a memória desse bairro tão característico do subúrbio carioca, a diversidade e os usos do seu território, as práticas do samba e toda a riqueza audiovisual local que contribui para que Madureira seja um espaço de resistência de cultura popular e afrodiaspórica. Tempero ao estilo da Feira dominical das Yabás, para provocar os paladares a se aventurarem por uma obra imperdível.
Já na seção especial, João Monteiro desenvolve uma reflexão crítica sobre a urgência e a importância de se pensar políticas habitacionais para os centros urbanos, a partir do caso do Edifício Amaral Peixoto 327, na cidade de Niterói, estado do Rio de Janeiro. Diante da repercussão de um caso de desabamento de imóvel ocupado no centro de São Paulo em 2018, o poder público fluminense procedeu à desocupação forçada do prédio do centro de Niterói, sem considerar, no entanto, medidas alternativas de moradia digna para os então moradores.
Quem somos nós na cidade? É a partir dessa fundamental indagação que Aline Barros nos lança, por meio de seu ensaio fotográfico, à cotidianidade urbana e suas múltiplas e singulares expressões.
Por fim, aproveitamos o espaço para agradecer a todas e todos que contribuíram com mais um ano da revista e-metropolis, com a esperança de um próspero 2020. Boa leitura a todos!