Editorial

nº 32 ano 8 | Março 2018

Eis a 32ª edição de e-metropolis, a primeira de 2018! Mais uma vez, saudamos o novo ano e, em tempos sombrios, reforçamos o desejo por cidades socialmente mais justas e democráticas.

O destaque deste número é conferido ao texto “Turismo, patrimônio e espaço geográfico: teoria e prática de uma ação interdisciplinar”, escrito pela professora Maria Goretti Tavares, da UFPA. A partir de sua experiência à frente do projeto de extensão universitária Roteiros geoturísticos: conhecendo o patrimônio cultural do centro histórico de Belém, a geógrafa traz algumas reflexões sobre patrimônio, turismo, políticas públicas e o papel da universidade diante dos desafios atuais.

Continuando a apresentação de artigos, temos o texto “A autogestão na era das políticas neoliberais - a experiência com o programa Minha Casa, Minha Vida - Entidades”, no qual Catharina Teixeira faz uma revisão de literatura sobre o histórico do programa durante as fases 1 e 2 (janeiro de 2014), época em que se concentrou o ápice da sua produção habitacional. Com enfoque em São Paulo, a pesquisadora destaca a relação do esquema tripartite entre Estado, movimento popular/associações e assistência técnica, para avaliar a autogestão com a empreitada global, destacando as “incongruências operacionais” resultantes da forma como o programa foi equacionado. Mais adiante, em “Super-heróis e anonimato nas grandes cidades: o blasé, o homem da multidão e a dupla identidade nas histórias em quadrinhos”, Marina Vieira retoma com desenvoltura as discussões da modernidade sobre o individualismo, o anonimato e a multidão nas metrópoles a partir de uma importante referência teórica-conceitual: aquela edificada por Georg Simmel. No artigo “Cidades afetivas: uma via ecológica para o bem viver”, Vivian César, Sydney Cincotto Júnior e Valmir Martins de Oliveira tratam do desafio de identificação de outras vias de sociabilidade em um contexto de saturação social, no qual as promessas de melhoria da vida humana via desenvolvimento tecnológico caem em descrédito.

O ensaio fotográfico desta edição é de autoria de Lucca Mazzacappa e tematiza o sujeito neoliberal como um o indivíduo-produto dessa “nova razão de mundo” como, por vezes, é tratado o neoliberalismo. Ao longo de dez imagens bastante instigantes, o ensaio retrata diversos personagens anônimos absorvidos por essa lógica político-econômica que rege a vida cotidiana contemporânea.

Na seção de entrevistas, Jilly Traganou, pesquisadora na Parsons School of Design (Nova Iorque), fala sobre sua investigação a respeito do papel do urbanismo, da arquitetura e do design na construção da operação olímpica, especialmente acerca do que ela pôde constatar no Brasil. Em entrevista concedida a João Carlos Monteiro, a pesquisadora traça um paralelo entre as experiências olímpicas na Grécia e no Brasil, com destaque para as contestações populares.

Duas resenhas compõem esta edição: uma bibliográfica e outra cinematográfica, e que apontam para a multiplicidade urbana que interessa à e-metropolis. Ao revisitar o livro Quando a rua vira casa (originalmente publicado em 1989 e hoje em sua 4ª edição), a resenha produzida por Priscilla Xavier procura destacar as qualidades que fazem do trabalho um clássico das ciências sociais. A obra é resultado do relatório final de pesquisa desenvolvido por Arno Vogel, Marco Antonio da Silva Melo e Orlando Mollica, que acompanharam a proposta de intervenção urbanística de inspiração moderna no bairro do Catumbi e a vigência dos princípios racional e progressista no condomínio Selva de Pedra, escolhido como caso de controle. A 2ª resenha versa sobre o filme Corpo elétrico, para o qual Eduardo Miranda Silva lança um olhar não centrado somente na problemática queer, mas também nas relações de classe que atravessam a trama. Em diálogo com as transformações na produção cinematográfica brasileira nas três últimas décadas, o autor discorre sobre o encontro entre a micropolítica dos corpos (corpos gays, trans e negros) e a macropolítica do trabalho, que se revela na obra dirigida pelo cineasta mineiro Marcelo Caetano.

Na seção especial, o debate agora em torno das relações entre arte urbana e cidade, mais especificamente sobre a obra Para escutar a cidade, realizada por Giovana Zimermann em 2017 e instalada no espaço público de um bairro de Florianópolis. Em um registro feito pela própria artista, tomamos conhecimento sobre a concepção e as motivações que resultaram na escultura. É nela, nessa obra de arte urbana, que se faz um apelo à necessidade de se escutar o urbano em sua heterogeneidade, interditando o egoísmo e a intolerância, e promovendo a sociabilidade.

Iniciar a aventura editorial de 2018 também significa agradecer. Queremos, mais uma vez, agradecer aos pareceristas e colaboradores por todo o empenho em 2017. Especialmente, por fim, queremos agradecer a Ana Carolina Christóvão, Carolina Zuccarelli e Eliana Kuster, que deixam o corpo editorial da e-metropolis. Desejamos boa sorte e muito sucesso a elas! Muito obrigado e boa leitura!