-
Tweets
Editorial
Urbanismo, subalternidade, favelas, gentrificação, identidade de gênero e mobilidade sustentável: estes são alguns dos temas que atravessam a 31ª edição de e-metropolis.
No artigo de capa desta edição, Ananya Roy, professora da Universidade da Califórnia, procura entender e questionar as formas pelas quais as cidades do Sul global são estudadas e representadas na pesquisa urbana e, de certa forma, no discurso popular, ocupando-se principalmente com o que ela chama de “urbanismo subalterno”. Essa forma de olhar para o urbano se encarrega da teoria da megacidade e de seus espaços e classes subalternas, dentre eles o mais proeminente é a favela, como um território a partir do qual o urbanismo subalterno fornece relatos que vão além das narrativas apocalípticas e distópicas. Nesse artigo, Roy nos oferece uma reflexão importante sobre esse paradigma, que permite reconhecer os espaços de pobreza e formas de agência popular que muitas vezes permanecem invisíveis e negligenciadas nos arquivos da teoria urbana.
Na sequência, temos o artigo Jogos de distinção e lógica da exclusão: problematizando o conceito de gentrificação a partir de uma favela urbanizada no Rio de Janeiro, onde Nicolas Quirion reflete sobre a relação indivíduo-território, estilos de vida e novas formas de segregação urbana. Com base nos resultados de uma observação participante desenvolvida em uma favela carioca, o autor destaca os efeitos da preparação e realização da Copa do Mundo de Futebol e das Olímpiadas na cidade.
Em Transitoriedades de gênero: a geografia e o teatro frente a uma questão de identidade em BR-Trans, Miguel Angelo Ribeiro e Ulisses da Silva Fernandes, professores do Instituto de Geografia da UERJ, articulam as cenas da peça teatral BR-Trans como expressões de vivências socioespaciais, relacionando a geografia com as metáforas dos espaços geográficos ali encenadas. As identidades e transitoriedades de gênero são lidas a partir das interações com os espaços cotidianos, que refletem os padrões ocidentais dominantes de sexualidade, e os desafios necessários para debater e desconstruir essas imposições.
No artigo Espaço urbano e mobilidade sustentável é realizada uma abordagem reflexiva acerca da percepção dos problemas de mobilidade urbana em quatro municípios da Região Metropolitana da Grande Vitória (ES). Partindo de uma avaliação documental e de estudos e projetos constantes no plano diretor urbano, Kelly Epichin conclui que o problema da crise de mobilidade vem se arrastando ao longo do tempo, com efeitos danosos ao meio ambiente, à qualidade de vida e à sociedade em geral, e que caberia ao poder público, portanto, a promoção de ações direcionadas para o planejamento e políticas de integração, estímulo dos meios de transporte alternativos e melhorias na locomoção, promovendo a qualidade dos espaços públicos, através de articulações municipais.
O ensaio fotográfico desta edição, intitulado Complexo de favelas da Pedreira, traz uma reflexão contundente sobre as favelas do Rio de Janeiro, destacando a força do povo negro e sua capacidade de resistência frente aos conflitos sociais. Paulo Vinícius, em seu ensaio, nos brinda com um misto de imagem e poesia que enaltece a beleza dos pequenos atos do cotidiano.
Ivone Salgado, Renata Baesso Pereira e Luiz Augusto Costa, professores do Programa de Pós-Graduação em Urbanismo (POSURB) da PUC-Campinas, em entrevista concedida a Fernando Pinho, falam de suas pesquisas desenvolvidas no grupo “História das cidades: ocupação territorial e ideários urbanos”. Abordando as questões urbana e rural, suas transformações e suas influências no pensamento urbanístico e nos estudos de história do urbanismo no Brasil, os entrevistados relatam seus percursos acadêmicos e de formação, explorando aspectos da área nos diálogos com matrizes internacionais, regionais e interdisciplinares.
O livro Green gentrification: urban sustainability and the struggle for environmental justice, de Kenneth Gould e Tammy Lewis, publicado em 2016, é objeto da resenha feita por Pedro Torres. A obra discute os vínculos entre a implementação de projetos ambientais e sustentáveis e os processos de gentrificação em cinco casos na cidade de Nova York.
Aproveitamos para encerrar este editorial com agradecimentos a todas e todos que prestigiam a e-metropolis com sua leitura e suas contribuições. Boas festas, feliz 2018! Boa leitura!