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Editorial
Madrugada de 28 de junho de 1969, bar Stonewall Inn. Mais uma vez, a polícia chegou com violência. Foi ali, como alvo principal das prisões decorrentes das batidas policiais, que mulheres trans negras e latinas, lésbicas masculinizadas e gays afeminados fizeram emergir uma série de protestos. Um ano depois ocorria a primeira parada do orgulho gay, marcando um novo momento do ativismo social. O mês de junho passa, então, a ser reconhecido como o mês do orgulho LGBT.
No Brasil temos presenciado muitos ganhos de direitos, mas, ainda há muito a ser garantido. O cenário continua a não ser dos melhores – ainda nos deparamos com um alto índice de morte de pessoas LGBT, com terapias de “reversão sexual”, “ideologia do gênero”..., mas a vida, em toda a sua diversidade, insiste, resiste, existe.
Foi por ocasião da passagem do mês do orgulho LGBT e suas comemorações – sim, porque há de se comemorar, sempre! –, que convidamos Elias Veras e Juliana Coelho para falar de suas pesquisas. No artigo de capa Transtopias, os autores procuram dar visibilidade às experiências trans e suas formas de ocupar o centro da cidade de Fortaleza.
Continuando, temos Cinco décadas de cooperativismo de moradia no Uruguai, onde Flavio Ghilardi constrói um panorama do cooperativismo de moradia, desde as experiências-piloto realizadas nos anos 1960, sua ascensão e regulamentação enquanto política governamental, o arrefecimento sofrido nas décadas de regime militar, até os dias atuais, com a reorganização institucional da política habitacional. Trata-se de um importante registro histórico para analisarmos similitudes e diferenças entre o cooperativismo pátrio e o uruguaio, bem como traçar políticas públicas participativas e garantidoras do direito à moradia.
Em seguida, Fellip Agner de Andrade, no artigo Entre separações e mediações, utiliza o filme argentino Medianeras para tratar da vida contemporânea na cidade, da influência das tecnologias na vida urbana e das subjetividades que perpassam a conflituosa relação entre individuo, multidão e urbe.
No terceiro artigo, O projeto Quilombo da Gamboa: ação colaborativa e resistência popular pelo direito ao centro do Rio de Janeiro, Felipe de Azevedo propõe uma reflexão sobre o cotidiano dos moradores desse projeto de moradia social, problematizando-o enquanto uma alternativa real de autogestão habitacional no espaço metropolitano, contrapondo uma lógica de cidade em que as relações de troca se sobrepõem aos valores de uso.
O ensaio fotográfico desta edição, intitulado El Carmen, a cidade onde nasceu a vida afroperuana, faz um registro das memórias da viagem de João Martins ao distrito de El Carmen, no Peru. Foi naquele pequeno povoado que o turista-sociólogo encontrou danças, canções, histórias e memórias que brotaram das lutas do povo negro contra a escravidão e a colonização espanhola.
Na seção especial, Cortiços de hoje na cidade do amanhã, Larissa Lacerda, Mariana Werneck e Bruna Ribeiro apresentam uma análise de uma pesquisa que identificou os imóveis que funcionam como cortiços na área do Porto Maravilha. As autoras apontam a invisibilidade dos cortiços nesta região, bem como mostram que os cortiços são marcados por uma grande heterogeneidade de condições de moradia e de grupos sociais, unificados em sua demanda de viver na área central.
O engenheiro civil e sociólogo Eduardo Vasconcellos, que foi entrevistado por Juciano Rodrigues e Jean Legroux, fala sobre sua trajetória no campo da mobilidade urbana. Além de tratar de questões atuais, como os custos sociais decorrentes da motorização individual e o debate sobre a tarifa zero nos transportes, na entrevista, Vasconcellos resgata sua experiência na África, especialmente em Moçambique e África do Sul, destacando que encontrou problemas muito semelhantes aos que enfrentamos no Brasil e como essas características representam barreiras para a construção de políticas públicas de mobilidade voltadas para o transporte coletivo.
Encerrando, temos duas resenhas. Voltando às inter-relações entre cinema e vida urbana, Patricia Cesar apresenta as incongruências da vida urbana na resenha do filme franco-belga Perdidos em Paris. A autora decanta o filme para nos trazer o burburinho parisiense, a solidão, as incompreensões entre os citadinos... todas as características, enfim, das quais se compõe uma grande cidade. Por fim, voltando à temática LGBT para fechar essa edição, temos Sexualidade, identidade e sociabilidade em um lugar GLS, uma resenha do livro Da avenida Cerqueira Lima ao Beco dos Artistas: um espaço de sociabilidade GLS, de Andressa Ribeiro. Apontando para as relações entre espaço, identidade, sexualidade e estigma, a obra resenhada por Fernando Pinho trata da afirmação identitária em um “espaço homossexual”, e o significado disso tanto para seus frequentadores quanto para a sociedade em geral.
Deixamos essa edição em suas mãos, nosso leitor costumeiro, torcendo para que o seu prazer ao lê-la seja semelhante ao que tivemos em organizá-la. Até a próxima!