Editorial

nº 29 ano 8 | Junho 2017

Apresentamos mais uma edição da Revista e-metropolis, continuando a manter a nossa preocupação em englobar diferentes aspectos da vida urbana, de modo a tratar das nossas cidades de maneiras múltiplas.

Trazemos, no artigo de capa, o trabalho “O rio é a minha rua: a circulação e o agrupamento dos ribeirinhos na Amazônia oriental”, dos professores Regina Célia B. Ferreira e Luis Eduardo A. Vaca, da Universidade Federal do Pará, que analisam o funcionamento do sistema de transporte hidroviário de passageiros nas ilhas da Região Metropolitana de Belém. Por meio de dados levantados na pesquisa de campo e tratados de acordo com a técnica da análise de agrupamento, os autores identificam dois circuitos de circulação da população estudada: o circuito de produção versus reprodução e o circuito de subsistência.

No artigo seguinte, “O ideário do direito à cidade na identidade e atuação dos sujeitos coletivos: reflexões a partir da experiência do comitê popular da copa e das olimpíadas do Rio de Janeiro”, Ana Beatriz de Oliveira Reis discute em que medida o ideário do direito à cidade é parte constitutiva na atuação de sujeitos coletivos urbanos na atualidade. A autora faz uma análise qualitativa de documentos produzidos por esses sujeitos coletivos, em especial, os dossiês lançados pelo Comitê Popular Rio Copa e Olimpíadas da cidade do Rio de Janeiro entre os anos de 2010 e 2016. O artigo pretende contribuir para fomentar o debate sobre o direito à cidade e a construção de cidades mais democráticas, tanto no planejamento quanto na gestão urbanas. 

Prosseguindo, temos "Cultura e planejamento urbano na Zona Portuária carioca: uma articulação utilitária", que faz uma incursão sobre os discursos e estratégias de intervenção estabelecidas em torno do projeto "Porto Maravilha" no Rio de Janeiro. A autora, Mariana Luscher Albinati, traz a visão da região portuária enquanto "vazio" e área degradada em oposição a sua consideração como centralidade cultural, especialmente relacionada à cultura afro-brasileira. Quanto a este último aspecto, o texto destaca as estratégias de apropriação desta centralidade cultural na busca por uma nova significação do espaço, ao que denomina "retórica da conquista" em um contexto neoliberal de planejamento urbano.

Em nosso terceiro artigo, intitulado "O debate sobre as ocupações urbanas revisitado - entre o vício (da virtude) e a virtude (do vício), a contradição", Thiago Canettieri traz uma contribuição teórica à discussão das consequências das ocupações urbanas a partir do confronto de dois ideários aparentemente divergentes sobre o tema. Tal divergência estaria associada à maneira como é interpretado o fenômeno da produção habitacional autogestionária na academia, tida, por um lado, como reflexo da reprodução do capital, enquanto por outro, vista como a possibilidade de se pensar novas formas de se produzir a cidade.

Gabriela Brandão, no ensaio fotográfico “Veracidade: estética (des)construtiva dos elementos urbanos”, retoma a ideia do flâneur como um gesto exploratório e de investigação acerca da realidade urbana que deveria ser mais usado por arquitetos e urbanistas. Flanando pela cidade, tomando o corpo e suas sensações como forma de registro, a autora captura elementos que constituem uma espécie de “estética construtiva urbana”.

Na seção especial, Mariana Corteze nos traz “Manifestos urgentes: descaminhos de uma caligrafia impressa sob(re) a pele urbana”, onde traça uma espécie de cartografia da resistência cotidiana, cujas vozes se materializam nos gestos teimosos das “pixações”. Insubmissa a classificações, ordenamentos e regulações, essa caligrafia, que brota de corpos igualmente insubmissos, vem rasurar a ideia da cidade do pensamento único e a noção utilitarista e cosmética sobre a arte, questionando o status quo e fazendo das ruas um lugar de debates, embates e de outros modos de vida urbana.

Para essa edição entrevistamos Pascale Pichon, socióloga francesa pioneira em estudos sobre os fenômenos do viver na rua, que reflete sobre os diversos elementos do fazer das ciências sociais: da escolha por um campo temático às experiências em responder a editais de financiamento de pesquisas. Na entrevista, realizada por Cristina Filgueiras, Pichon fala também de redes de pesquisa sobre homelessness e espaço público, e relata a cooperação entre estudiosos do urbano, arquitetos, artistas, designers e fotógrafos. Por fim, comenta o relacionamento de pesquisadores com a mídia, tema pouco discutido nas ciências sociais.

Finalizamos essa edição com a sessão de resenhas. Aqui, uma novidade: passamos a incluir os filmes recentes, que apresentem uma ligação com as cidades, dentre as obras a serem alvo de nossas resenhas. Nessa primeira incursão no universo fílmico, temos “Paterson: um homem, uma cidade, um filme”, uma resenha sobre o filme “Paterson”, de Jim Jarmusch, escrita pela nossa editora Eliana Kuster.

Por fim, deixamos um convite à nossos leitores para que acompanhem as nossas publicações no twitter, no instagram e no facebook, redes sociais nas quais conseguimos manter um contato mais direto e difundir as novidades e chamadas da e-metropolis.

Deixamos, enfim, mais esta edição da revista em suas mãos, leitor interessado nas metrópoles e seus rumos, desejando uma agradável e proveitosa leitura. Até a próxima!