Editorial

nº 28 ano 8 | Março 2017

A revista e-metropolis chega finalmente à sua 28ª edição, trazendo como artigo de capa o texto assinado pelo professor Alex Magalhães, Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional (IPPUR) da UFRJ, sobre a experiência do II Seminário Nacional sobre Urbanização de Favelas, realizado no Rio de Janeiro no final do ano passado. Com o objetivo de promover um balanço reflexivo de seus resultados e contribuições para as políticas de urbanização de favelas no Brasil, o evento propiciou a junção de profissionais técnicos, acadêmicos e também de moradores em torno de tal debate, trazendo avanços importantes na compreensão dos diversos aspectos que estão enredados na execução de políticas públicas voltadas para as favelas.

Já no artigo “A localização diferenciada dos investimentos e seu impacto na estruturação socioespacial das cidades à luz da teoria da causação circular”, a pesquisadora Priscilla Fonseca discute a estruturação urbana a partir da distribuição dos bens coletivos, apontando que a localização das pessoas e dos bens e serviços no espaço é fator primordial para compreender a organização social do território e suas formas de desigualdade. Em suas considerações, isto reflete diretamente nas condições de vida dos indivíduos e na valorização do solo.

No artigo “Política urbana e meio ambiente na perspectiva dos direitos humanos: reflexões sobre o 'futuro das cidades' nos debates das Nações Unidas”, de Ana Paula Marcante Soares trata da produção da ideia de “futuro das cidades” em sua relação entre cidade e meio ambiente enquanto direito humano. A análise parte da agenda política da Organização das Nações Unidas e busca refletir criticamente sobre os limites da suposta estabilidade e universalidade da noção de cidades ambientalmente “sustentáveis”.

Em “A Diversidade de ocupações de imóveis ociosos: uma leitura a partir de casos europeus”, Julia Vilela Caminha explora as experiências europeias de Vall de Can Masdeu e Can Vies, localizados em Barcelona; Christiania, em Copenhagen; e Regenbogenfabrik, em Berlim, para discutir a relação entre as ocupações de imóveis ociosos e a intensa mercantilização das cidades e o aumento da especulação imobiliária nas últimas décadas.

No ensaio fotográfico desta edição, William Soto, professor associado da Universidade Federal de Pelotas, ilustra o ensaio fotográfico desta edição tematizando através de imagens uma parte dos usos múltiplos e possíveis que se instauram na cidade. Os registros mostram as temporalidades que se cruzam no espaço urbano, incluindo suas contradições, mas também a sua celebração e a sua reinvenção cotidiana. Esperamos que todos tenham uma leitura esclarecedora, produtiva e, especialmente, divertida!

Além disto, na nossa seção especial, Antonella Grieco apresenta a construção de um diálogo hipotético entre Henri Lefebvre, Pierre Bourdieu e David Harvey com o objetivo de discutir as transformações e os conflitos sociais em ocorrência nas cidades do mundo e, especificamente, na cidade do Rio de Janeiro. A escolha por essa cidade se deu, segundo Antonella, pelo fato de o Rio estar experimentando um modelo de gestão e de crescimento próprio da atual fase do capitalismo global, com seu modelo de tornar a cidade sede de megaeventos e alvo de grandes projetos urbanos.

Na entrevista, mostramos, desta vez, um resultado do esforço de mobilização de alunos, professores e funcionários do IPPUR/UFRJ, que, no segundo semestre de 2016, iniciaram o Mobiliza IPPUR, consistindo num ciclo de atividades, debates e diálogos sobre a atual conjuntura política brasileira. No âmbito das discussões sobre austeridade e crise fiscal, a professora Hipólita Siqueira (IPPUR/UFRJ) e o Mobiliza IPPUR realizaram uma entrevista com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), no Rio de Janeiro, sobre a trajetória e desenvolvimento do tema do salário-mínimo no Brasil, situando-o na atual conjuntura e seus desdobramentos.

Por fim, o livro “Seeking Spatial Justice”, do geógrafo e teórico urbano Edward Soja, ganhou resenha crítica da pesquisadora Gabriela Fauth intitulada “Reflexiones sobre el território de la (in)justicia en las ciudades”. Nesta obra, Fauth mostra que o autor se dedica especialmente a analisar o termo “justiça espacial” a partir de uma perspectiva na qual tanto a justiça como a injustiça se constroem socialmente, repercutindo desta maneira no território. Assim, Soja constrói uma dialética socioespacial das cidades, incluindo a acepção de direito à cidade como a busca pela justiça espacial e pelos direitos democráticos, portanto, do espaço urbano.