Editorial

nº 24 ano 7 | Março 2016

Apresentamos ao pesquisadores interessados em cidades o novo número da revista e-metropolis. Essa é a 24ª edição da nossa revista e, como de hábito, ela vem com uma variedade de temas que gravitam em torno dos fenômenos urbanos e suas manifestações.

Em nosso artigo de capa, Mobilidade pendular intermetropolitana: articulando a rede nacional de metrópoles, Rosa Moura (IPEA) e Paulo Delgado (IPARDES) analisam o fenômeno do deslocamento para o trabalho entre as regiões metropolitanas brasileiras, caracterizando a distribuição regional dos principais fluxos pendulares e o perfil socioeconômico das pessoas que os realizam. Segundo os autores, esses deslocamentos, compostos por fluxos de grandes distâncias, revelam importantes relações intermetropolitanas, que, por sua vez, levam à formação de novos arranjos espaciais ou à consolidação de arranjos já existentes, os quais extrapolam não só os limites municipais, mas também estaduais.

No artigo Indicadores bibliométricos sobre gestão e governança metropolitana na pesquisa e produção acadêmica recente no Brasil, Henrique de Castro e Wilson dos Santos Jr. (PUC-Campinas) fazem uma interessante análise sobre a presença dos temas “governança metropolitana” e “gestão metropolitana” na produção acadêmica brasileira entre os anos de 2000 e 2014. Partindo de uma pesquisa quantitativa sobre os artigos presentes no indexador online REDALYC, nos anais dos encontros da ANPUR e sobre os termos encontrados no diretório de grupos de pesquisa do CNPq, os autores apresentam um panorama sobre a distribuição institucional e outros elementos que caracterizam as publicações em torno desses temas.

No artigo Faces da Mobilidade Urbana: o confronto entre configuração espacial e condições sociais, econômicas e ambientais em Vitória - ES, BRASIL, Katia Miller e Valério de Medeiros avaliam alguns aspectos da mobilidade em Vitória (ES) por meio da sintaxe espacial. A pesquisa baseou-se no levantamento das medidas de integração global e local (que representam o potencial de deslocamento das vias) e sua relação com aspectos sociais, econômicos e ambientais, a saber: densidade habitacional e demográfica, rendimento médio per capita, população, uso do solo, intensidade de fluxo de veículos e índice de qualidade do ar. Como principais conclusões de seu estudo, os autores apontam os distintos níveis de correlação entre os aspectos configuracionais e a mobilidade urbana, o que sugere ser a sintaxe espacial uma importante ferramenta de planejamento, capaz de simular os prováveis efeitos de alterações viárias sobre aspectos sociais, econômicos e ambientais, especialmente se for associada aos demais modelos adotados em engenharia de tráfego e de transportes.

O artigo Megaeventos e sustentabilidade urbana em Cuiabá-MT: entre a teoria, a prática e as possibilidades, dos professores Geovany Jessé Alexandre da Silva (UFPB) e Bruno Padovano (USP), toma como ponto de partida a discussão sobre megaeventos, especialmente a realização dos jogos da Copa Mundial de 2014, para por em debate os impactos deste tipo de iniciativa sobre a sustentabilidade urbana. As fragilidades institucionais observadas no caso de Cuiabá, além da ausência de maior controle e fiscalização de obras e de participação social, deram origem a um equivocado elenco de prioridades no desenvolvimento de projetos e que resultaram em problemas relacionados à mobilidade urbana, especulação imobiliária e gentrificação, entre outros. Daí, concluem os autores, a necessidade de um planejamento integrado, sustentável em termos econômicos, ambientais e sociais.

O ensaio fotográfico Amor chantado: uma poética nas paredes de Lisboa, realizado por Frederico Tavares, doutorando em arquitetura e urbanismo na UFRN, a partir de registros feitos durante o seu estágio doutoral na capital portuguesa, aponta para a errância urbana como valiosa possibilidade metodológica de conhecimento sobre a cidade e os sujeitos contemporâneos. Foi, deste modo, exercitando um “caminhar despretensioso (e) experienciando o lugar” que foi observado um conjunto de grafites, os quais poderiam compor algo como, nas palavras do autor, uma poética do amor. Trata-se, portanto, do registro de um acontecimento, no sentido de que estes sinais são da ordem da criação, ilustram a emergência de singularidades, e dizem muito sobre as relações entre sujeito e cidade.

É também nesta perspectiva, qual seja a do acontecimento como criação e a da experimentação como recurso metodológico, que a artista visual e pós-doutoranda em planejamento urbano e regional Giovanna Zimermann e o professor Robert Pechman assinam a seção especial deste número. O texto Por um urbanismo lúdico e afetuoso traz um relato sobre uma atividade e realizada no âmbito da programação da XXI Semana de Planejamento Urbano e Regional da UFRJ, cuja temática central versava sobre os 450 anos de desigualdade em 450 anos de fundação da capital carioca. A oficina Cidade dos Afetos, coordenada pelos autores, teve por inspiração os entrelaçamentos possíveis entre arquitetura, urbanismo, literatura e artes visuais, bem como as obras de Gaston Bachelard e Ítalo Calvino, com o objetivo de promover um espaço lúdico, sensorial, de trocas e de sonhos.

Seja a cidade em seus aspectos mais visíveis, seja a que se deixa atravessar por poéticas e afetos, todas elas fazem parte de nossas vidas. Fazemos as cidades e elas nos fazem, diariamente. A e-metropolis tenta, a cada edição, contribuir para que a compreensão sobre o fenômeno urbano seja cada vez mais múltipla. Desejamos uma excelente leitura a vocês!