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Editorial
Caros leitores,
É com muita satisfação que iniciamos o ano de 2015 atingindo a marca de 20 edições da Revista Eletrônica E-metropolis, uma publicação que vem ao longo dos últimos cinco anos procurando construir um espaço profícuo de debate e divulgação para a produção acadêmica dedicada para o fenômeno urbano contemporâneo. Este é um tema amplo e multiforme que envolve uma série de áreas do conhecimento, diferentes abordagens metodológicas, inúmeras questões de pesquisa, além de despertar inquietações e paixões das mais variadas possíveis. É essa multiplicidade que motiva nosso trabalho como e nosso interesse em seguir desenvolvendo este espaço de troca, que desde o início vem apostando também na agilidade dos meios digitais para difusão de seus conteúdos em edições trimestrais. Cabe ressaltar que sem a participação de todos aqueles que vêm contribuindo com seus ensaios, resenhas, entrevistas e artigos, nada disso seria possível. Fica aqui nosso agradecimento e nosso convite para que continuem investindo em nossa revista para a divulgação de vossa produção.
Dito isto, cabe apresentar nossa Edição 20, que traz em seu artigo de capa a tradução inédita do famoso artigo “Por qué los hombres son tan irresponsables?", publicado no início dos anos 1990 pelo sociólogo uruguaio radicado no Chile, Ruben Kaztman. A sua publicação nesse número da revista se justifica duplamente. Com efeito, trata-se de um notável exemplo da riqueza e da pertinência do pensamento sociológico sobre um fato social frequente nas cidades latino-americanas: a fragilização das famílias do mundo popular pelo abandono pelos homens do seu papel de provedor e de socialização dos filhos, desencadeando a possibilidades da vigência do círculo de reprodução Inter geracional da pobreza. Se contrapondo – implicitamente - às explicações moralistas e ideológicas que atribuem este comportamento a falhas de caráter ou à pobreza, Ruben Katzman produz sólida argumentação sobre as causas sociais deste comportamento considerado “irresponsável”. Com este olhar sociológico, o texto explora as questões que envolvem as mudanças nos papéis sociais dos homens de setores populares e seu impacto na constituição e organização familiar, trata de uma reflexão que segue bastante atual na discussão proposta e sobretudo do ponto de vista metodológico.
Em seguida apresentamosoutros três artigos que propõem discussões com um viés teórico-metodológico sobre as periferias, a criminalidade e a informalidade. O artigo “Como compreender as velhas periferias? Um exercício de reflexão relacional”, de Camila Saraiva, recupera a abordagem estruturalista sobre a questão urbana desenvolvida no Brasil a partir da década de 1960 e busca possibilidades de diálogo com a sociologia de Pierre Bourdieu para analisar as transformações recentes das periferias da cidade de São Paulo. O artigo "Criminologia Cultural: (re)pensando o delito, a criminalização e a cultura sob a nova ótica criminológica", de Arcénio Cuco e Felipe Martins, explora a criminalidade e sua relação com a dinâmica cultural, numa perspectiva que explica o crime fora dos contornos clássicos. Para os autores, argumentos como falta de oportunidades ou motivação instrumental não dariam mais conta de explicar as mais recentes tendências criminológicas. Por fim, o artigo “Descobrindo “para-formalidades”: controvérsias e mediações no espaço público”, de Débora Allemand, Eduardo Rocha e Rafaela B. de Pinho, partindo do conceito de para-formalidade, discute a inserção dessas atividades no tecido urbano, mapeando e registrando em imagens a sua ocorrência em algumas cidades latino-americanas.
Na sessão especial desta edição, o texto de Aluízio Marino apresenta a experiência insurgente do Coletivo Coletores através do projeto cultural digital “Ateliê Livre: Media Lab”, que articulou atores da periferia paulistana em torno de intervenções urbanas, encontros e gambiarras. Já o ensaio fotográfico “Palácio Gustavo Capanema na empatia da foto”, de Daniel Ferrentini, se propõe relacionar a matemática áurea encontrada nas obras modernistas com a fotografia de pequeno formato. Com isso, o plano de fundo da imagem fotográfica é tanto um elemento arquitetônico quanto de empatia, na medida em que possibilita maior nitidez da fotografia.
Na entrevista deste número, o pesquisador e cientista social Thiago Matiolli conversou com Alan Brum, do Instituto Raízes em Movimento. Brum é uma das principais lideranças políticas do Complexo do Alemão, e nesta entrevista ele nos trouxe um panorama das lutas políticas e dos desafios das favelas cariocas. Além disso, abordou um tema recente, no qual está diretamente envolvido: a implantação de um novo Campus do Instituto Federal de Educação do Rio de Janeiro no Complexo do Alemão. Por fim, contamos também com a resenha “Uma nova e instigante abordagem da urbanização planetária”, na qual Ricardo Carlos Gaspar nos apresenta notas sobre o livro Implosions / Explosions: Towards A StudyOfPlanetaryUrbanization, organizado pelo pesquisador norte-americano Neil Brenner.
Boa leitura a todos!