Editorial

nº 17 ano 5 | Junho 2014

Caros leitores,

A Revista E-Metropolis chega a sua décima sétima edição e apresenta em seu artigo de capa uma reflexão acerca das inter-relações entre esporte, cidade e território. Em Territórios da “radicalidade”: as primeiras pistas de skate no Brasil (1976-1979), Leonardo Brandão busca analisar historicamente como o skate (uma invenção norte-americana) chega ao Brasil na década de 1960, acolhido inicialmente pelos adeptos do surfe, o que lhe rendeu a alcunha de “surfe de asfalto”. Já nos anos 1970, o skate adquire mais autonomia, em relação ao surfe, por meio da construção de pistas para a sua prática, bem como devido sua posterior institucionalização como um “esporte radical”. Em sua prática, o skate manteve e mantém relações com o exercício de novas corporalidades e com a formação de novos territórios urbanos, onde categorias como corpo, espaço e território se constituem mutuamente.

No artigo seguinte, Da rua ao boulevard: a influência da proposta dos eixos estruturais lineares de Jorge Wilheim em Curitiba, no planejamento urbano de Maringá/PR, Elise Savi e Fabíola Cordovil retomam aspectos do processo de planejamento urbano e regional do Paraná, na década de 1960, com o objetivo de mostrar suas ressonâncias na atualidade. Foi a partir da proposta de regionalização constante no Plano de Desenvolvimento do Paraná, elaborado pela SAGMACS em 1963, que foram concebidos os planos diretores de desenvolvimento dos principais municípios paranaenses, como o de Curitiba em 1966, o de Maringá em 1967 e o de Londrina em 1968. As autoras observaram que o Plano Diretor de Desenvolvimento de Maringá recebeu influência das propostas estabelecidas pelo Plano Diretor de Desenvolvimento de Curitiba, em especial no que se refere à hierarquia viária. Ainda que não tenha sido implantada à época, esta é invocada como referência presente na iniciativa da Prefeitura de Maringá em reurbanizar a Avenida Colombo (Rodovia PR-376), tornando-a um boulevard – uma intenção que foge ao propósito de reestruturação viária e mais próxima do imaginário de renovação urbana, do marketing urbano, da elitização e da especulação imobiliária.

Em Ocupações, Remoções e Luta No Espaço Urbano: A Questão Da Moradia, Thiago Canettieri reflete sobre a questão da moradia a partir de processos que envolvem o acesso à habitação hoje: as ocupações, as remoções e a luta pela moradia.

O artigo Sete jogos, nenhum índio, de João Luiz Pereira Domingues, toma como estudo de caso os recentes acontecimentos em torno da Aldeia Maracanã, localizada na cidade do Rio de Janeiro, dedicando-se à análise das relações entre “as políticas culturais, a esfera pública e o território”. Deste modo, o autor argumenta que os diversos tipos de políticas culturais sofrem os efeitos das políticas de regulação urbana, entre os quais destaca o atrofiamento da diferença e da diversidade em decorrência dos processos de mercantilização urbana. Com esse debate, João Domingues pretende contribuir para uma historiografia dos movimentos culturais insurgentes.

Em Áreas protegidas e planejamento estratégico “ecologizado”: a Operação Urbana do Isidoro (Belo Horizonte, Minas Gerais), Ana Carolina Pinheiro Euclydes busca pensar o papel das áreas protegidas urbanas diante das atuais políticas metropolitanas, tendo como referência os processos em torno da constituição da Operação Urbana de Isidoro, ocorrida na cidade de Belo Horizonte, Minas Gerais. De acordo com a autora, tal caso demonstraria como o empreendorismo urbano seria capaz de articular a supremacia do discurso ambientalista com a dura realidade ambiental de nosso país, de modo a atender aos interesses do capital.

Luciana da Silva Andrade, Juliana Demartini e Rogério Cruz, em A Banalidade do Mal na Arquitetura: desafios de projetos do Programa Minha Casa Minha Vida, buscam problematizar a postura profissional dos arquitetos no Brasil frente à baixa qualidade físico-espacial dos empreendimentos produzidos por esse programa habitacional. As reflexões contidas no artigo são resultado de pesquisas empíricas atualmente em curso, e também dos resultados de duas oficinas de projeto realizadas com alunos e professores da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Esta edição tem como entrevistada a professora Maria Lígia de Oliveira Barbosa, do Programa de Pós-Graduação em Antropologia e Sociologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Em entrevista realizada por Carolina Zuccarelli, intitulada O sistema de ensino superior e a formação do homem culto, Maria Lígia discorre sobre a relação complexa entre o funcionamento do sistema de ensino superior e os mecanismos de produção e organização das desigualdades nas sociedades modernas. Temos também o ensaio fotográfico Desafios à corporificação do direito à vida no espaço urbano da metrópole carioca, de autoria de Débora Santana de Oliveira, que explora as contradições envolvidas nos discursos sobre o “restabelecimento” da paz na metrópole carioca. E por fim e resenha feita por Eliana Kuster sobre o livro Dicionário Amoroso de Salvador, de João Filho.

Desejamos a todos uma boa leitura.

Os editores.