Editorial

nº 16 ano 5 | Março 2014

Apresentamos mais uma edição da Revista e-metropolis ao público, continuando a manter a nossa preocupação em englobar diferentes aspectos da vida urbana.

Nesta edição, trazemos no artigo de capa, a trudução inédita no Brasil do texto Polanyi's ''Double Movement'': The Belle Époques of British and U.S. Hegemony Compared” texto de Beverly Silver e Giovanni Arrighi. Traduzido como “O Duplo Movimento" de Polanyi: Comparação da Hegemonia da Belle Époque Britânica e Estadunidense, o texto traz uma análise histórico-mundial explícita e comparativa entre o duplo movimento do final do século XIX e início do século XX - a Belle Époque e o colapso da hegemonia britânica - e o duplo movimento do final do século XX e do início do século XXI - a Belle Époque da hegemonia dos EUA e sua crise atual. De acordo com os autores, em ambos os períodos o movimento em direção a mercados supostamente autorreguláveis desencadeou um contramovimento de proteção. No entanto, eles ressaltam que houveram diferenças importantes em relação à natureza do estado hegemônico e ao maior papel desempenhado pelas forças subordinadas na redução do movimento em direção a mercados autorreguláveis no final do século XX.

Em Loteadores Associativos: Uma Contextualização, Silke Kapp argumenta que a produção de loteamentos periurbanos populares por loteadores privados foram objeto de muitas pesquisas na década de 1980, no entanto, chama a atenção para outros agentes que também atuaram na expansão periférica das cidades: os movimentos sociais e as associações populares. Tendo como campo de pesquisa a Região Metropolitana de Belo Horizonte, a autora analisa o cenário econômico e político em que esses loteadores associativos surgiram, bem como os procedimentos que usaram e as razões pelas quais suas histórias foram quase ignoradas, embora apresentassem elementos importantes à discussão de políticas urbanas e habitacionais.

Prosseguindo temos o artigo de Paula Hernandes, intitulado Carências habitacionais e rendimento escolar na região metropolitana do Rio de Janeiro, que explora os efeitos que a condição de moradia exerce sobre o rendimento escolar das crianças e adolescentes. A autora avalia o quanto as carências habitacionais e na infraestrutura do local do moradia afetam principalmente os níveis de atraso escolar e abandono escolar. Além disso são considerados também os efeitos dos processos de segregação social na distribuição das oportunidades educacionais e a importância de propor políticas públicas integradas capazes de articular educação, moradia e território.

Em nosso terceiro artigo, intitulado Riachuelo: da (in)visibilidade de uma rua reinventada à indícios de uma gentrificação em construção, discute-se a revitalização de centros urbanos que tem sido um movimento comum nas cidades brasileiras e, na maior parte dos casos, sinônimo de processos de gentrificação. Andrei Crestani analisa o caso da rua Riachuelo em Curitiba, que desde 2009 passa por uma renovação socioespacial e econômica expressa na agenda dos seus projetos. Crestani mostra que a gentrificação, nesse caso, não ocorre apenas como consequência histórica “inesperada” do processo, mas também como estratégia de políticas urbanas.

Por fim, no artigo Os conceitos da metrópole latino-americana contemporânea: o exemplo da fragmentação socioespacial, Michael Chetry apresenta o debate em torno do conceito de fragmentação espacial na literatura acadêmica produzida na América Latina, apresentando as origens do conceito, suas variações, diferentes abordagens, além de visões críticas sobre os seus limites.

Para essa edição entrevistamos o professor e pesquisador Carlos De Mattos, do Instituto de Estudios Urbanos e Regionales da Universad Católica de Chile. De Mattos é uma referência latino-americana na área de estudos urbanos e, nessa entrevista, realizada em Santiago do Chile, em janeiro de 2013, ele, nascido no interior do Uruguai, fala de sua trajetória desde sua chegada em Montevidéu para estudar Arquitetura até sua ida ao Chile, onde vive há mais de quarenta anos. Além disso, a entrevista traz importantes considerações sobre a história da urbanização do Chile e sobre as tendências atuais de transformação das cidades latino-americanas.

Finalizando esta 16a edição, trazemos o ensaio fotográfico Foto[grafias] de uma paisagem: Porto Alegre, entre permanências e rupturas de Letícia Castilhos Coelho que explora a cidade de Porto Alegre vista desde o Rio Guaíba, registrando uma série de fragmentos que ilustram a interface "cidade-água" em sua inúmeras possibilidades.

Deixamos mais esta edição da revista nas suas mãos, leitor interessado nas metrópoles e seus rumos, desejando uma proveitosa leitura. Até a próxima edição!