Editorial

nº 13 ano 4 | Junho 2013

Apresentamos, enfim, a vocês, mais uma edição da Revista e-metropolis, na qual estamos trazendo temas que abordam aspectos bastante atuais das metrópoles brasileiras.

Começamos já com nosso artigo de capa, no qual é abordado o tema dos megaeventos esportivos, discutindo as atuais disputas travadas entre as cidades por sua atratividade, que aconteceriam em função de um consenso autoritário característico do mundo globalizado, dominado pela lógica de mercado. De acordo com a autora, neste contexto, onde até o planejamento urbano se curva ao jogo neoliberal, a participação seria possível apenas de modo seletivo, fazendo emergir a Cidade de Exceção. Aqui, toma-se como exemplo principal desta interação entre a produção da cidade e a produção dos espetáculos esportivos, o caso do Rio de Janeiro. A cidade, preparada para a realização dos megaeventos esportivos, encontraria-se numa situação de exceção, já que desde o seu ordenamento institucional, até as suas práticas políticas teriam sido tomadas por este objetivo; tornando a exceção, uma regra; levando a uma crise do Estado Democrático. Diante destas transformações, as tradicionais formas de representação política já não seriam mais suficientes, o que poderia, ao menos em parte, apontar para as motivações que levaram tantos brasileiros a se manifestar pelas ruas de nossas cidades no último mês.

Em “Pessoas ou Investimentos? A especulação imobiliária, as violências públicas e a expulsão dos mais pobres das grandes metrópoles”, Miracy Gustin, Fábio Merladet e Isabella Miranda discutem – a partir do caso da cidade de Belo Horizonte (MG) – as estratégias que vêm sendo utilizadas para remover núcleos residências associados à população de baixa renda das novas frentes criadas pelo mercado imobiliário, ressaltando o papel desempenhado pelas políticas públicas urbanas na efetivação desse processo. Ao invés de promoverem ações que visem melhorar as condições de moradia das famílias ou melhorar a integração destes espaços com o tecido da cidade, as intervenções realizadas em geral tendem a reforçar os processos de exclusão social e de segregação sócio-espacial. Nesse sentido, o artigo questiona o quanto as políticas urbanas, habitacionais ou de segurança pública vêm de fato sendo construídas de forma democrática e inclusiva ou apenas operando a favor de um projeto de cidade voltado para a realização dos interesses da especulação imobiliária e das grandes construtoras.

Prosseguindo, temos o artigo “Configurações Espaciais da Metropolização Brasileira”, no qual a autora Rosa Moura busca analisar as transformações na configuração espacial na urbanização atual brasileira, verificando como as recentes dinâmicas de concentração e mobilidade se manifestam nos diversos espaços do território e quais os desafios à gestão territorial advêm desta refuncionalização dos polos e periferias. No artigo, a autora explora duas dimensões do processo de metropolização no Brasil: de um lado, avalia as dinâmicas territoriais da população brasileira em termos de crescimento, aglomeração e mobilidade populacional; de outro, analisa o processo de institucionalização de unidades territoriais, revelando a disjunção entre esse processo e a formação de aglomerações urbanas em si. O texto, por fim, destaca as dificuldades de gestão dessas unidades territoriais, cuja institucionalização é mais formal que prática.

Em nosso último artigo, intitulado “De Pereira Passos ao Porto Maravilha”, Nelson Diniz, busca entender como se expressa a colonialidade do saber e do poder nas representações e nas intervenções sobre a cidade. Para exemplificar essa ideia, o autor toma o caso da região portuária do Rio de Janeiro em dois momentos históricos: o início do século XX, com a “modernização” do Porto durante a reforma Pereira Passos, e o início do século XXI, com a “revitalização” proposta pelo projeto “Porto Maravilha”. O contraste entre estas intervenções revela que uma mudança foi produzida (nem por isso, positiva), em que se observa uma passagem do eurocentrismo (como manifestação da superioridade do saber produzido no continente europeu) para um “globocentrismo” (enquanto imaginário vinculado à necessidade de inserção competitiva da cidade na economia mundializada), embora se mantenha a colonialidade dos saberes que sustentam as transformações da região portuária carioca.

Como se vê, embora abordando períodos temporais diversos, as questões levantadas pelos autores permanecem totalmente pertinentes às discussões atuais a respeito das metrópoles, e aos questionamento que vêm sido insistentemente levantados a respeito de que tipo de cidade queremos e a quem ela deve atender em suas reformulações, sua espacialidade, seu planejamento e sua política.

Ainda no âmbito destas questões, trazemos a entrevista com o sociólogo Christian Topalov, diretor de estudos na École des Hautes Etudes en Sciences Sociales (EHESS), Paris. Durante a primeira parte de sua carreira acadêmica, Topalov atrelou intimamente trabalho intelectual e engajamento político, contribuindo nesse período para o desenvolvimento da sociologia urbana marxista francesa. Atualmente trabalhando com a história das políticas de reforma urbana e social, a sociologia das ciências sociais relacionada com as questões urbanas; sua obra representa uma abordagem original interrogando em particular a construção histórica das categorias e os objetos da sociologia nas suas relações com a ação.

Na resenha “Corpos d'água, caixões de concreto”, Pablo Pimentel Pessoa nos traz um comentário sobre o livro de Maria Cecília Barbieri Gorski, “Rios e cidades: ruptura e reconciliação”. Nele, a autora faz um apanhado histórico de como os centros urbanos, em especial, brasileiros e norte-americanos, foram se desenvolvendo ligados às bacias hídricas e percebendo, a partir daí, problemas a serem equacionados: inundações, desbarrancamentos, proliferação de vetores, insalubridade e contaminação hídrica. O livro divide-se em uma primeira parte teórica e uma segunda que se compõe de seis estudos de caso, nacionais e internacionais.

Continuamos com a nossa seção especial, trazendo o texto “Colapso econômico, catástrofe ecológica, tecnologia e arte: à beira do apocalipse ou no limiar de transformações tecnológicas sem precedentes?”, de Keren Moscovitch e Marianna Olinger, no qual os autores apresentam a EXPO 1: New York, uma exploração dos desafios ecológicos no contexto de instabilidade econômica e sociopolítica do início do século XXI, aberta em maio no MoMA PS1, em Nova Iorque.

Por fim, em nosso ensaio fotográfico, apresentamos o trabalho de André Mantelli, intitulado “Devolvam o Rio de Janeiro”, uma série de imagens sobre as recentes manifestações políticas que tomaram as ruas brasileiras.

Despedimo-nos aqui, desejando ao nosso leitor uma agradável leitura desta edição, e torcendo para que o conteúdo da revista e-metropolis o instigue e o faça refletir cada vez mais sobre qual deve ser o perfil social, político e morfológico das nossas cidades. Até a próxima edição!