Editorial

nº 12 ano 4 | Março 2013

É com grande satisfação que lançamos mais uma edição da revista eletrônica de estudos urbanos e regionais e-metropolis. Chegamos, assim, ao nosso 12º número. Procuramos, como em todas as outras edições, ao longo desses mais de dois anos de trajetória, priorizar o caráter multidisciplinar da proposta da revista nas diferentes abordagens sobre a dinâmica da vida urbana contemporânea. Nosso artigo de capa, por exemplo, faz um instigante convite para refletirmos sobre o presente e o futuro das grandes metrópoles. No texto, o coordenador nacional do Observatório das Metrópoles e professor titular do IPPUR-UFRJ, Luiz Cesar de Queiroz Ribeiro, e a professora do Programa de Pós-Gradução em Urbanismo da UFRJ, Ana Lúcia Britto, propõem - utilizando a Região Metropolitana do Rio de Janeiro como exemplo – uma reflexão sobre os obstáculos colocados para a construção de um projeto capaz de sobrepor o quadro de fragmentação política de nossas metrópoles. Esse modelo fragmentado, segundo os autores, só pode ser superado por forças políticas, econômicas e sociais capazes de propor um projeto metropolitano como orientador institucional, cognitivo e político dos atores.

Mais adiante, contamos com uma valiosíssima contribuição vinda de Portugal. No artigo intitulado “O verão quente de 2012: reivindicando o direito à habitação em Santa Filomena, Amadora”, André Carmo trata da questão habitacional, que volta à agenda política do país, particularmente neste momento de crise, onde se prevê profundas transformações em todos os setores da vida nacional. Para isso, partindo do trabalho desenvolvido pelo coletivo HABITA, que atua na luta pelo direito à cidade em Portugal, o autor traz o caso do bairro de Santa Filomena, chamando a atenção para o fato de que o município de Amadora tem desenvolvido um conjunto de políticas que visam a sua erradicação.

Em “Políticas habitacionais e acesso à cidade no Município de Santo André/SP” o tema volta à tona. Bárbara Oliveira Marguti realiza uma análise da produção habitacional realizada nas duas últimas décadas em Santo André, na região metropolitana de São Paulo. A preocupação da autora está em avaliar a estrutura socioespacial resultante, com foco no resultado das políticas habitacionais de interesse social também sob a perspectiva do direito à cidade. Em tempos de “Minha Casa Minha Vida” o artigo de Bárbara é leitura indispensável para quem se interessa pelo tema.

No último artigo desta e-metropolis é a partir de Cloé, cidade imaginária/imaginada no belíssimo “Cidades invisíveis” de Ítalo Calvino, que Clara Natalia Steigleder Walter busca refletir sobre as atitudes de aproximação e de reserva, em seu caráter ambíguo e próprio da experiência urbana. Para isso, no texto de “Entre a proximidade e a distância, a sociabilidade e a impessoalidade na vivência do urbano”, a autora aciona o pensamento de Georg Simmel, fazendo-o funcionar em um diálogo que convoca as ideias de Anthony Giddens e de Henri Lefebvre, para discutir as modulações observáveis nas relações de sociabilidade e no individualismo conforme se apresentam em nossa contemporaneidade, cada vez mais saturada de múltiplos estímulos sensoriais.

A presente edição de e-metropolis vem com uma novidade: a sessão “Com a palavra...”, que traz a transcrição de uma palestra do renomado geógrafo inglês David Harvey, da City University of New York, realizada no Auditório Ariosto Mila da FAU/USP, em São Paulo, no dia 28 de fevereiro de 2012. A palestra fez parte da programação das atividades de lançamento do livro “O Enigma do Capital” (Editora Boitempo) uma de suas obras mais recentes. Em sua fala, Harvey trata, sobretudo, do principal assunto desse livro, ou seja, a crise econômica global instalada desde 2008, cujos efeitos ainda se sentem principalmente em alguns países da Europa. As palavras deste notável pensador que temos o enorme prazer de reproduzir em e-metropolis tratam-se, na verdade, de um convite à reflexão sobre como essa crise está arraigada à história da urbanização e do desenvolvimento urbano – uma dimensão histórica tão bem fundamentada desta crise que talvez não encontremos nos livros escritos pelos economistas.

Os megaeventos esportivos ou, mais especificamente, o livro Security Games: Surveillance and Control at Mega-events, editado por Colin Bennett e Kevin Haggerty, são o objeto da resenha escrita pelo geógrafo Chris Gaffney, da Universidade Federal Fluminense. Em seu texto, Gaffney chama a atenção não só para a importância desta obra, mas também para como o discurso dos megaeventos apressam os processos de implantação de regimes de segurança que podem levar décadas para se desenvolver por si só, deixando tecnologias novas, invasivas e mortais seguirem desigualmente pelo tecido urbano.

A Sessão Especial deste número traz as motivações, os conceitos originais, as ideias e algumas imagens que estão por trás do processo de criação de “Perlenga Cangaço”, curta-metragem realizado pelo Grupo de Pesquisa Modernidade e Cultura do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional (IPPUR) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Produzido em 2009, o filme propõe discutir/pensar, a partir da importância de apropriar-se da realização cinematográfica como um meio de constituição de saberes, os discursos que estão relacionados à representação do “Cangaço” e do próprio Nordeste.

A bicicleta é sem dúvida mais do que um meio de transporte. O escritor uruguaio Eduardo Galeno, em seu livro “Los Hijos de Los Días”, lembra de seu papel na emancipação feminina. Ele conta que por causa da bicicleta as mulheres moviam-se por conta própria, desertavam da casa e disfrutavam do perigoso gosto da liberdade. Com o título “Um novo jeito de andar pelo mundo”, o ensaio fotográfico desta edição é, justamente, um registro visual da relação entre bicicleta e cidade, nesse caso a onipresença da magrela nas cidades europeias. O ensaio foi feito pela estudante de Letras Português/Francês na Universidade Federal de Pelotas Lua Gill da Cruz, que atualmente trabalha como assistente de língua portuguesa pelo Ministério da Educação Francês, na Île-de-France. Neste período, realizou várias viagens pela Europa que possibilitaram a seleção das fotografias para este ensaio.

Esta é, portanto, a décima segunda de e-metropolis, com nossos agradecimentos e votos de boa leitura!