Editorial

nº 8 ano 3 | Março 2012

A Revista e-metropolis chega ao seu terceiro ano com uma ótima notícia! A nossa publicação passou a fazer parte do Programa Qualis da CAPES, classificada na área de Sociologia. Este é um motivo de orgulho e alegria para todos os envolvidos com sua a realização, para os colaboradores, para os avaliadores e, sobretudo, para nós, membros do comitê editorial, que, há três anos atrás nos reunimos e avaliamos que poderia haver espaço na área das publicações ligadas ao Planejamento Urbano para uma revista com o perfil da e-metropolis. É muito bom constatar que durante o seu tempo de existência a revista vem crescendo e atraindo mais atenção e interesse. Esperamos continuar, ao longo deste ano, neste percurso que visa, acima de tudo, abrir um espaço de qualidade para as amplas discussões que podem ser desenvolvidas em torno do espaço urbano.

Abrimos este oitavo número da e-metropolis com um artigo de capa que apresenta a relação entre território e oportunidades educacionais a partir das pesquisas realizadas no âmbito do projeto “Observatório Educação e Cidades”. O artigo apresenta os desafios e principais achados das pesquisas desenvolvidas no âmbito do projeto, enfatizando soluções teórico-metodológicas utilizadas para trabalhar com a questão do território e os achados em termos de mecanismos que, no contexto estudado, explicam a relação entre segregação residencial e distribuição de oportunidades educacionais.

Na sequência, o artigo de João Monteiro e Julia de Andrade apresenta uma reflexão sobre as políticas sociais e as disputas territoriais emergentes a partir do grande projeto urbano lançado em 2009 chamado Porto Maravilha e que pretende transformar a área portuária da cidade do Rio de Janeiro tornando-a mais atraente para o capital imobiliário. O texto apresenta a conjuntura política e as mudanças na gestão urbana em torno do Projeto Porto Maravilha, a forma como a questão habitacional vem sendo tratada nesse Projeto e, finalmente, os problemas que os residentes de baixa renda dessa região vêm enfrentando para conseguirem permanecer no local reservado ao Porto Maravilha.

Omar Uran em seu artigo aborda a dinâmica do Planejamento Urbano de Medellín a partir da divisão político-administrativa da cidade em comunas e seu funcionamento. Apresenta o estudo de caso de duas Comunas, a Comuna 1 e a Comuna 13, com o objetivo de mostrar como cada uma delas tem sua própria lógica e seu próprio modo de articular as ações e políticas municipais. Para o autor um projeto de planejamento urbano que não reconheça politicamente as singularidades e as lógicas próprias às populações locais não vem a favorecer e/ou desenvolver a institucionalidade das ações e políticas municipais, muito menos a cultura democrática local.

Uma outra forma de olhar para a questão habitacional é discutida por Alexandre Magalhães que trata da reatualização dos discursos e práticas no que diz respeito às remoções de favelas no Rio de Janeiro. Esses discursos estão cada vez mais focalizados na construção de uma gramática da ordem na cidade fazendo apelo à gramática da violência urbana (considerada como o principal problema público da cidade do Rio de Janeiro). Como o próprio autor argumenta: “embora a problemática seja a mesma (a remoção em si) que aquela que vigorou durante os anos de 1960 e 1970, sua configuração atual apresenta novos e intrigados argumentos e justificações, bem como sugerem uma atualização nos mecanismos de controle e gestão das classes populares”. São considerações como esta que ele desenvolve no artigo “A gramática da ordem na cidade: a reatualização da remoção de favelas no Rio de Janeiro”.

Em ‘A Cidade Pós-Política’, o professor da Universidade de Manchester Erik Swyngedouw, questiona a atitude “radicalista cínica” de decretar a morte da política e, consequentemente, da Pólis para dar lugar a uma governamentabilidade neoliberal que substitui o debate, o desacordo e o dissenso por uma série de tecnologias em uma gestão tecnocrática. O autor busca resgatar “a noção de política e da polis política dos escombros das obsessões contemporâneas por um governo consensual (participativo), pela gestão tecnocrática e política/policia urbana neo-liberal”. Para ele A Cidade Pós-Política, fragmentada e caleidoscópica, vê surgirem todos os tipos de fricções, fendas, fissuras, lacunas e espaços ‘vagos’. Para Swyngedouw são nessas fissuras, fendas, e espaços ‘livres’, nesses espaços intermediários que todas as formas de novas práticas culturais e sociais urbanas emergem; em que nascem novas formas de urbanidade. Assim, ainda segundo o professor, “as incoerências do ordenamento urbano contemporâneo, o excesso e as lacunas que são deixados nos interstícios da ordem urbana pós-política permitem pensar, se não na ocupação e alargamento material, em espaços urbanos, genuinamente, políticos”.

Como entrevistado desta edição temos o professor Ricardo Henriques, presidente do Instituto Pereira Passos, um dos mais importantes centros de pesquisa e referência da cidade do Rio de Janeiro. Ele nos conduz através do assunto de UPP social, elucidando a sua organização através de três eixos estruturais: o desenvolvimento social e econômico, o desenvolvimento urbano e, finalmente, o Estado democrático, cidadania e direitos. Nosso entrevistado fala a respeito das dificuldades de implementação de uma UPP social, bem como dos mecanismos para a superação dos entraves, abordando ainda um assunto bastante atual: as remoções realizadas em algumas áreas da cidade do Rio de Janeiro em função dos grandes eventos internacionais ali previstos para os próximos anos.

A Resenha “A história de um campo de estudos sob a ótica dos seus próprios protagonistas” realizada por Ludmila Mendonça Lopes Ribeiro do livro organizado por Lima e Ratton (2011) As ciências sociais e os pioneiros nos estudos sobre crime, violência e direitos humanos no Brasil ressalta a importância do trabalho dos precursores nestes estudos para a produção atual sobre crime e polícia no Brasil.

“O crescimento sem desenvolvimento: a nova dinâmica dos territórios nos países avançados” é o nome da resenha feita por Michael Chetry do livro de Laurent Davezies (2008) La République et ses territoires. La circulation invisible des richesses. O autor destaca que o livro de Davezies não só oferece um novo olhar sobre a evolução dos territórios como, também, renova o quadro teórico da geografia econômica. Para Chetry, embora o livro baseie-se no caso francês, ele pode ser apropriado para refletir sobre a situação enfrentada por outros países industrializados ou em desenvolvimento, incorporando sua análise a contextos nacionais diferentes, inclusive, no caso brasileiro.

Na Seção especial temos o Ensaio “Rodas de Samba em espaços públicos na Cidade do Rio de Janeiro: saber, técnica, cultura, contradições e resistências em tempos de “choque de ordem” e megaeventos” de Leonardo Chagas de Brito que destaca o crescimento deste tipo de prática nos últimos dez anos no Rio de Janeiro. Para o autor as rodas de samba “são formas de expressão de uma sociabilidade integradora que a cidade ainda oferece, contrapondo certas morfologias contemporâneas de esvaziamento de tais espaços como as políticas de “choque de ordem”, os megaeventos, a criação de enclaves como os condomínios e diversões em espaços privados caros e segregadores como boates, bares temáticos, “neobotecos” e micaretas com cordas”.

O sociólogo David da Costa Aguiar de Souza é o realizador do ensaio fotográfico dessa edição com o título de “O graffiti gentrificado: suportes inusitados, diálogo com equipamentos urbanos e o flerte com pintores consagrados”. O ensaio pretende demonstrar como o grafitti , ao ser assimilado pelas instituições componentes do universo das artes plásticas, notadamente mercado e academia, distanciou-se da pichação e sofisticou não só a sua alocação nos suportes urbanos públicos, como também sua temática.

Entregamos assim, aos nossos leitores, mais uma edição da revista e-metropolis, desejando a todos uma boa leitura e muita reflexão sobre esse organismo tão complexo e desafiante: as cidades. Até a próxima!