Editorial

nº 5 ano 1 | Junho 2011

É com satisfação que trazemos para nossos leitores a 5° edição da revista e-metropolis! Neste número, uma novidade: a capa da revista foi selecionada através de um concurso que buscava uma imagem que mais representasse o tema da autogestão da moradia, o assunto tratado no artigo principal.

Vivemos hoje no Brasil a retomada do financiamento público federal para o setor imobiliário como resposta às pressões das grandes empresas da construção civil para a ampliação da demanda solvável no mercado habitacional. A proposta feita pela professora do IPPUR/UFRJ, Luciana Lago, ao abordar a autogestão da moradia é justamente a de entender como a disputa por localização entre agentes com interesses e ideais de cidade tão conflitantes pode alterar a dinâmica econômica local e a organização social do território.

Seguindo a linha de investigações sobre os padrões de organização social do território, o artigo de Luciana Andrade e Marco Marinho discute as relações entre a incidência de homicídios, o processo de metropolização e a vitimização juvenil. A despeito da inexistência de uma relação causal entre crime e pobreza, os autores afirmam que a criminalidade não é um fenômeno que se dá ao acaso; ao contrário, segue uma lógica que pode ser apreendida pela sua distribuição no espaço.

O segundo artigo deste número propõe uma forma diversa de traçar um fio condutor através dos múltiplos aspectos do espaço urbano: através de seus signos sonoros. A proposta é feita pelo sociólogo Thiago Matiolli que busca apreender, através dos sons da cidade, uma maneira alternativa de constituir uma cognição urbana e interagir com o espaço das cidades.

Uma apreensão multidisciplinar da análise dos fenômenos sociais é apresentada por Priscilla Xavier no artigo que analisa o filme de Fatih Akin “Do outro lado”, extraindo dessa produção questões que adensam o debate sobre o estrangeiro e a imigração urbana na modernidade. A autora defende que a produção cultural deva ser abordada, não apenas como mero instrumento de dominação, mas também como fonte de recursos para crítica, consciência, resistência e mudança.

Na entrevista desta edição, a arquiteta e urbanista Raquel Rolnik fala de sua experiência como relatora especial da Organização das Nações Unidas para o direito humano à moradia adequada, destacando que as remoções forçadas são a principal forma de violação do direito à moradia. Rolnik também nos fala sobre a definição do conceito de moradia adequada na ONU e se este é um conceito sujeito à revisão pelo órgão.

Uma multidão se aglomera ao redor de uma estátua prateada no centro do Rio de Janeiro. Esse é o mote encontrado por Robert Pechman para falar do choque de ordem, programa do município do Rio de Janeiro para combater aquilo que é classificado comumente como desordem urbana. Não que se negue a necessidade da normatização do funcionamento da cidade. A existência de normas é o que, em última análise, torna possível a existência da própria sociabilidade. O problema, na acepção de Pechman, é uma cidade onde a fantasia já não possa ter lugar e a ordem se imponha como única alternativa de construção do convívio. O vídeo de Christian Caselli nos mostra o desenrolar do fato ocorrido com a estátua prateada.

A sessão mega-eventos deste número teve a colaboração da historiadora Márcia de Castro Borges, que traz, no ensaio fotográfico, imagens que buscam contribuir com uma reflexão a respeito dos desafios enfrentados pelos habitantes das cidades-sede dos mega-eventos no Brasil, em especial no Rio de Janeiro e em Porto Alegre, cenários do ensaio.

Nos despedimos dos nossos leitores, desejando uma excelente e proveitosa leitura, e esperando revê-los novamente na próxima edição da e-metropolis!