Editorial

nº 4 ano 1 | Março 2011

Abrimos as nossas edições do ano de 2011 com o quarto número da nossa revista! Ao longo destas quatro edições temos tentado consolidar um percurso que traga contribuições teóricas e empíricas para a área dos estudos urbanos, abrindo oportunidades ao exercício do pensamento sobre as cidades, sempre tendo em mente os aspectos plurais que devem estar, necessariamente, presentes em tais estudos, de forma a que vários aspectos deste organismo tão complexo que é o espaço urbano sejam privilegiados.

Este raciocínio foi, mais uma vez, o fi o condutor que nos ajudou a construir este número da e-metropolis, que caracteriza-se, portanto, pela reunião de assuntos dos mais diversos, que giram em torno da questão principal que nos move: como acontece a vida nas cidades?

Iniciamos nossa quarta edição apresentando um interessante estudo do antropólogo Lenin Pires, que estabelece um enfoque sociológico sobre o sistema de transportes públicos e seus usuários. É partindo de uma experiência pessoal, vivida durante um trajeto em um trem urbano que o levaria até o bairro de Engenho de Dentro, no Rio de Janeiro, que Pires dá início às suas observações traçando um paralelo entre a rede de transportes e o processo de modernização brasileiro.

Em “Desafios no caminho para o ‘Rio 2016’: o que nos dizem as experiências anteriores?”, Erick Omena trata de um tema que vem mobilizando planejadores e teóricos de diversas áreas nos últimos meses: a realização dos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro em 2016. Debruçando-se sobre os outros grandes eventos esportivos realizados na cidade, e tentando detectar seus pontos fortes, bem como os impactos negativos gerados por eles, o pesquisador tenta sugerir algumas linhas de ação que tenham por objetivo reduzir a incidência destes impactos.

Na sequência, deixamos o Rio de Janeiro rumo à Fortaleza, com o artigo de Raphael Teixeira. A pesquisa traça um panorama das territorialidades religiosas na capital cearense e suas transformações nos últimos anos, buscando, a partir da análise destas mudanças, inferir suas consequências no planejamento urbano municipal.

Na entrevista desta edição, a socióloga e pesquisadora francesa Claudine Haroche trata sobre os novos modos de subjetivação que influenciam a construção do sentido na vida urbana repartida coletivamente. Fortemente apoiada no pensamento de Georg Simmel, Haroche ressalta as consequências que a vida acelerada nas cidades tem para a psique dos que dela compartilham, desvendando, ao mesmo tempo, como a uma topografia física do espaço urbano, corresponde uma outra, subjetiva.

O livro “Diários de bicicleta”, do músico David Byrne, é alvo da resenha de Juciano Rodrigues. Byrne, ciclista convicto, expressa no livro suas considerações, opiniões e preocupações a respeito do uso deste meio de transporte nas grandes cidades pelas quais já viajou. Somam-se então, considerações sobre arquitetura, planejamento urbano, arte, cultura, música e hábitos peculiares a cada local que o músico atravessou pedalando sobre as suas duas rodas.

Nesta edição apresentamos ainda uma seção especial, que nos faz um simpático convite: vamos fazer um passeio até a banca de revistas e nos deixar envolver pelo mundo das histórias em quadrinhos? Acompanharemos, então, através do olhar da arquiteta Eliana Kuster a exposição ‘Archi & BD: la ville dessiné’, que ocupou o Museu da Arquitetura, em Paris, durante a segunda metade de 2010. Tratando os quadrinhos como uma das linguagens que têm o poder de nos falar sobre os devires urbanos, a autora apresenta a exposição, analisando a forma como, a cada momento histórico, temos uma representação feita pelos quadrinhos sobre as questões urbanas daquele período.

Fechando a nossa quarta edição, trazemos o ensaio fotográfi co ‘Antítese Urbana’, que tem por foco a desativação da Casa de Detenção do Carandiru, em São Paulo. O ensaio, realizado pela doutoranda Luciana Genari, vem acompanhado por um texto, que mostra como o local do presídio, já desativado e demolido, foi ocupado por um parque público, ou seja, de um local sobre o qual a cidade preferia ignorar a existência, a outro, público e aglutinador de pes-soas: justamente a sua antítese.

Esta nossa quarta edição está, como podem perceber nossos leitores, especialmente plural em seus temas e enfoques. Reafirmamos que esta é uma das nossas metas: dar voz aos vários discursos que podem ser feitos tendo como ponto central a vida nas cidades - seja esta a vida objetivada que diz respeito aos fluxos dos transportes urbanos, leis ou planos urbanísticos, seja a forma como acontece o convívio entre os cidadãos e as representações culturais que podem decorrer daí, importantes constituidoras de uma subjetividade urbana. Desejamos uma excelente leitura a todos e esperamos novamente encontrá-los em nosso próximo número!