nº 9 ano 3 | Junho 2012
Artigo

Quem mora nas favelas?

Por Silke Kapp e Margarete Maria de Araújo Silva

RESUMO

A representação social dominante que vê na favela o território da pobreza por excelência é um dos dogmas sistematicamente combatidos pela socióloga Lícia Valladares. Embora admitindo a relevância dessa abordagem, este artigo procura rediscutí-la à luz da análise de estrutura de classes sociais proposta por Jessé Souza e José Alcides Figueiredo Santos. Trata-se de questionar a hipótese de que o incremento do acesso das populações moradoras de favelas a serviços e bens de consumo modernos constituiria uma mobilidade social rumo à classe média. Argumentamos que é mais plausível e faz mais jus aos setores destituídos da sociedade brasileira conceber as mudanças recentes nesses territórios urbanos como expansão da “nova classe trabalhadora” ou dos chamados “batalhadores”.

Palavras-chave: Favela; Classes destituídas; Nova classe trabalhadora; Produção social do espaço.

ABSTRACT

The dominant social representation that see in favelas the territories of poverty par excellence is one of the dogmas systematically countered by sociologist Lícia Valladares. While acknowledging the relevance of her approach, this article seeks to rediscuss it in the light of the analysis of social class structure proposed by Jessé Souza and José Alcides Figueiredo Santos. Our aim is to question the hypothesis that, for the inhabitants of favelas, the increased access to services and modern consumer goods equals social mobility toward the middle class. We argue that it is more plausible and does more justice to the deprived sectors of Brazilian society conceiving recent changes in these urban areas as an expansion of the new working class or so-called “battlers”.

Keywords: Favela; Deprived classes; New working class; Social production of space.

Silke Kapp
é arquiteta, doutora em Filosofia (UFMG), professora da Escola de Arquitetura da UFMG e pesquisadora do Grupo de Pesquisa MOM (Morar de Outras Maneiras).
Margarete Maria de Araújo Silva
é doutoranda em Arquitetura e Urbanismo (UFMG), professora da Escola de Arquitetura da UFMG e pesquisadora do Grupo de Pesquisa MOM.