-
Tweets
Presentear com o “inútil”: a cidade, o espaço e o tempo
Por Thais de Almeida Gonçalves
Resultado de uma discussão apresentada na dissertação de mestrado desta autora, esta série fotográfica atravessa o debate acadêmico de sua pesquisa ao colocar em xeque a relação cidade-corpo-espaço-tempo, na forma como teoriza Adriana Nascimento (et al. 2019), a partir da intervenção urbana “Rede Social”, proposta por Israel Souza, em Juiz de Fora (MG).
Estudos contemporâneos acerca do fenômeno urbano apontam para uma tendência de organização de cidade regida pela produtividade, pelo funcionalismo e pela mercadorização, em um cenário no qual se percebem cidades cada vez mais fragmentadas e socialmente hierarquizadas, como apontam Ana Fani Carlos (2018), Angelo Serpa (2018) e Ana Clara Torres Ribeiro (2004). Ou seja, uma urbanização sem urbanidade. Nesse sentido, percebe-se um esvaziamento do espaço social em direção à consolidação de espaços de consumo.
Este ensaio fotográfico busca, portanto, suscitar esse tipo de reflexão acerca da teoria da produção do espaço. Sob as lentes da intervenção urbana, traz à luz formas outras de se perceber os usos da cidade através de sua dimensão humana e sintetiza imageticamente uma virtualidade do urbano: a utopia como possibilidade concreta, ou transdução, assim como propõe Lefebvre (1999).
A fotografia, nesta narrativa, apresenta-se, assim, como o olhar que contrapõe a corporalidade na cidade ao seu tempo do ir e vir. Coloca em evidência as relações de sociabilidade propostas pelo ato de se intervir em espaços públicos, buscando a subversão do cotidiano, por meio do ato de se presentear com o “inútil” – como teoriza Adriana Sansão (2013) – o espaço urbano.