nº 33 ano 9 | Junho 2018
Entrevista

Habitação no Centro de São Paulo

políticas, disputas e impasses

Com Helena Menna Barreto Silva, por Eduardo Augusto Sombini e João Monteiro

Duas semanas após o incêndio e o desabamento do edifício Wilton Paes de Almeida, localizado no Largo do Paissandu, no centro de São Paulo, a arquiteta e urbanista Helena Menna Barreto Silva nos concedeu uma entrevista sobre a questão habitacional na área central de São Paulo. Na conversa, realizada em Montreal, Canadá, a pesquisadora expôs os percursos e os problemas das políticas de habitação popular em áreas centrais no país dos anos 1980 até hoje, explorando em mais profundidade o caso de São Paulo. Carioca de nascimento, a entrevistada dedicou boa parte do seu trabalho de gestão pública e pesquisa acadêmica à capital paulista, culminando com a coordenação do Programa Morar no Centro, durante a gestão Marta Suplicy (2001-2004), e de diversas pesquisas sobre a questão fundiária, as políticas urbanas e os programas habitacionais da área central da cidade.

Doutora pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, com uma tese sobre as relações entre a política habitacional e a questão fundiária no Brasil e em São Paulo, a pesquisadora criticou o modelo dominante de intervenção em áreas centrais no país e a ausência de políticas e instrumentos adequados ao equacionamento da habitação popular nos centros das cidades brasileiras.

A entrevista está dividida em três seções temáticas. A primeira, “Habitação em áreas centrais”, explora as origens e a evolução do debate sobre as políticas habitacionais em São Paulo e a influência que tiveram na escala nacional. A pesquisadora ressalta o papel dos movimentos sociais na defesa da reforma de edifícios ociosos para habitação de interesse social e a importância da circulação internacional de ideias, que permitiu desenhar instrumentos urbanísticos inovadores na cidade. Na seção “A experiência do Programa Morar no Centro”, a entrevistada narra o desenvolvimento de um dos mais importantes programas habitacionais em áreas centrais elaborados no país, destacando as negociações com o Banco Interamericano de Desenvolvimento, financiador do projeto. Por fim, a seção “Transformações recentes do centro de São Paulo” explora as dinâmicas imobiliárias e populacionais da área na última década, e analisa as parcerias público-privadas como o novo modelo privilegiado de implementação de programas habitacionais na área central, apontando as consequências desse cenário e a falta de soluções aparentes no curto prazo.

Esperamos que os aspectos discutidos na entrevista contribuam para uma reflexão sobre os caminhos necessários para evitar novas situações trágicas, às quais um grande contingente de pessoas está cotidianamente submetido, e avançar na implementação de políticas que possam garantir o direito à moradia dos grupos populares nas áreas centrais de São Paulo e de outras metrópoles brasileiras.

Habitação no Centro de São Paulo
Helena Menna Barreto Silva, por Eduardo Augusto Sombini e João Monteiro
é graduada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1965), mestre (1990) e doutora (1998) em Estruturas Ambientais Urbanas pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. Realizou pós-doutorado na Universidade de São Paulo (2006). Pesquisadora do Laboratório de Habitação e Assentamentos Humanos (LabHab) da FAUUSP e pesquisadora independente do Lincoln Institute of Land Policy. Trabalhou na Empresa Municipal de Urbanização de São Paulo (Emurb, 1981-1985) e na Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo (CDHU, 1985-1995). Coordenou o Programa Morar no Centro na Secretaria Municipal de Habitação de São Paulo (2001-2004). Atuou como consultora de diversas organizações, como Banco Mundial (1991-1992), Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (1997), Fundação SEADE (1998), Pact-Arim Internacional (1999-2000), Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (2005-2006) e Banco Interamericano de Desenvolvimento (2009-2010).