nº 32 ano 8 | Março 2018
Ensaio

Sujeito neoliberal

Por Lucca Gonzales Mezzacappa

O neoliberalismo pode ser compreendido atualmente, mais do que apenas uma lógica político-econômica, como uma ordem simbólica do capitalismo, uma “nova razão de mundo” (DARDOT, LAVAL, 2016). Suas normas sobressaem à esfera política e atuam intrinsecamente sobre os indivíduos, produzindo uma nova subjetividade pautada no desempenho, na eficiência e em resultados. Dentro dessa lógica que rege a vida, o indivíduo passa a ser compreendido como um sujeito neoliberal. É esse novo sujeito, que se desenvolve desde a década de 1970, o alvo do que Margareth Tatcher define como objetivo do neoliberalismo: “mudar a alma e o coração”.

Frente a essa norma existente em um sistema econômico calcado no crescimento desenfreado e nas crises por ele geradas, o sujeito neoliberal vê-se imerso em um cenário de constante cobrança e de impossibilidade de realização de desejos. Como aponta Franco Berardi, “a condição precária transforma os outros em inimigos potenciais, em competidores” (BERARDI, 2016).

O sujeito neoliberal tem a noção de ampla liberdade, ilustrada e defendida por ambientes de trabalho “descolados”, equipados com videogames e sofás, sob regimes flexíveis de horário, e por dispositivos tecnológicos que serviriam, a priori, para garantir maior eficiência e agilidade na execução de suas tarefas. Todavia, a liberdade vista por esse sujeito é, em suma, falaciosa e ilusória, uma vez que se perde o controle sobre o tempo produtivo.

A lógica produtiva vigente leva o sujeito a um constante estado de alerta, o que resulta em elevados índices de ansiedade, depressão, pânico, entre outras doenças psíquicas. Segundo dados da OMS (OPAS, 2016), aproximadamente 10% da população mundial sofre com doenças como a depressão, e aproximadamente 800 mil pessoas morrem por ano por suicídio. Outra faceta dos distúrbios psíquicos resultantes da razão neoliberal de vida pode ser vista no consumo de drogas e entorpecentes. Como aponta Christian Dunker, psicanalista e professor da USP, “o empuxo de produção e desempenho vem sendo suplementado por ingestão de substâncias legais e ilegais, em forma de doping tolerado, senão estimulado em nome de resultados” (DUNKER, 2016).

Sujeito neoliberal
Lucca Gonzales Mezzacappa
luccamezz@gmail.com
é graduando em Arquitetura e Urbanismo e pesquisador bolsista sobre processos de empresariamento urbano, neoliberalização e financeirização de políticas urbanas no Grupo Indisciplinar, da Escola de Arquitetura da UFMG.​