nº 30 ano 8 | Setembro 2017
Especial

Cortiços de hoje na cidade do amanhã

notas sobre a pesquisa Prata Preta e o levantamento de cortiços na área portuária do Rio de Janeiro

Por Larissa Lacerda, Mariana Werneck e Bruna Ribeiro

Desde 2009, a área portuária carioca vem sofrendo grandes transformações realizadas no escopo da operação urbana consorciada conhecida como Porto Maravilha. Parte importante na tentativa de tornar o Rio de Janeiro um polo de serviços internacional, a “revitalização” urbana deveria deixar para trás uma paisagem geográfica que ainda recordava a cidade do início do século passado, para abrir espaço, em seu lugar, à instalação de modernas torres comerciais, espaços de consumo e lazer inéditos e cerca de cem mil novos moradores. Seu intuito, em outras palavras, é produzir uma nova configuração socioespacial, capaz de alçar a área portuária do Rio de Janeiro ao patamar dos waterfronts de Baltimore, Barcelona e Buenos Aires.

Os ares da mudança, prometidos desde a década de 1980, pareciam reeditar as reformas que Rodrigues Alves e Pereira Passos implementaram há mais de cem anos. Naquela época, a abertura de largas vias e a política do bota-abaixo – que levaram à demolição de 1.700 prédios e à remoção de pelo menos 20 mil pessoas – inauguraram uma capital “que simbolizasse concretamente a importância do país como principal produtor de café do mundo, que expressasse os valores e os modi vivendi cosmopolitas e modernos da elite econômica e política nacionais”.

Não obstante, as inovações tecnológicas na movimentação de cargas e a realização de novas obras viárias monumentais, que respondiam à expansão da cidade do Rio para as áreas suburbanas e para os núcleos elitizados da Zona Sul e da Barra da Tijuca, logo levaram à desvalorização das infraestruturas físicas e sociais da área portuária. A transferência da capital para Brasília, em 1960, também causou grande impacto sobre a obsolescência da região central do RJ. Descartada pelos grandes circuitos de capital, a área portuária curiosamente permitiu, assim, a reprodução econômica, social e cultural das classes populares ao longo do tempo.

Cortiços de hoje na cidade do amanhã
Larissa Lacerda
larissa.gdynia@gmail.com
é mestre em Planejamento Urbano e Regional pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e pesquisadora do Observatório das Metrópoles.
Mariana Werneck
marianagsw88@gmail.com
é mestre em Planejamento Urbano e Regional pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e pesquisadora do Observatório das Metrópoles.
Bruna Ribeiro
cribeirobruna@gmail.com
é mestre em Planejamento Urbano e Regional pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e pesquisadora do Observatório das Metrópoles.