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verAcidade:
estética (des)construtiva dos elementos urbanos
Por Gabriela Gazola Brandão
verAcidade é uma pesquisa autoral permanente surgida da curiosidade pelo modo como o todo de uma cidade se constrói a partir de elementos e detalhes evidentes, mas pouco notados. Essa pesquisa abarca diversas temáticas e desvela maneiras de ver a cidade de verdade. Os registros desse projeto não surgiram para atender a uma pesquisa. A pesquisa é que foi desvelada com os registros. Primeiro, houve a inquietação que me moveu a vagar pela cidade fotografando cenas e elementos sem uma linha consciente de aporte conceitual. Depois de algumas incursões exploratórias e aleatórias, desvelou-se certa unidade naqueles registros, que ecoou com minhas reflexões sobre a arquitetura e o urbanismo. Nesse processo, uma ferramenta importante é o ato de flanar. Flanando sou instigada por elementos e cenas evidentes, mas pouco notados no cotidiano urbano. verAcidade é possível a partir de uma flanêrie, um caminhar despretensioso e aleatório, um deixar-se levar.
Quer conhecer uma cidade? Flane por ela. Ela é o fenômeno, e o ato de flanar é a postura investigativa. A cidade se desvelará no devir dessa interação. Creio que o arquiteto e o urbanista devem flanar. Devem sentir a cidade suspendendo suas pré-concepções técnicas e teóricas, seus próprios tratados conceituais sobre o que é uma dada cidade em questão e o que deve ser feito com ela. “Que ela é” é noção que pode estar repleta de ideias prévias. “Que deve ser feito com ela” é noção impregnada de pré-conceitos técnico-teóricos. E ela, que diz ser? E ela, que quer que seja feito dela? Há muito que sentir, antes de projetar. Há muito que aprender, que olhar com espanto, que tocar, ouvir e cheirar com o frescor da primeira vez. Há muito que flanar.
Este ensaio reúne registros sobre uma estética construtiva urbana, uma beleza escancarada ocultada pelo nosso não olhar acostumado. Elementos ordinários e desprezados que, por vezes, nos fazem tropeçar pela cidade. Estética desvelada no instante em que se olha a cidade na escala que o corpo experiencia; estética que fascina pela surpresa e encantamento. Ver a cidade de verdade guarda tantas possibilidades quantas forem as pessoas dispostas a olhar: uma cidade são muitas.