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Deserto de concreto úmido: um outro lugar
Por Mariana Corteze
As cidades cada vez mais são feitas de sensações fugidias, que escapam aos olhos, às palavras. Estamos cheios de uma tremenda velocidade que não tem e nem busca sentido e, talvez por isso, esquecemos de indagar a nós mesmos o que estamos fazendo aos nossos territórios e o quão nativo e estrangeiro somos destes.
Existe uma espécie de onipresença da ausência que se instala por aí. A instantaneidade da informação, a experiência mediada, a rotina exercida. Somos matérias que aderem mais do que superfície, mas, mesmo assim, continuamos transitando em nossos espaços como fantasmas: presentes em um outro lugar, não no aqui e no agora. Portanto, só o que consigo enxergar são cidades desertas, paisagens vazias, ruas adoecendo abandonadas.
É chegado o tempo de sairmos do lugar, de reposicionarmo-nos. É chegada a hora de reabitar, de transformar e corporificar a presença que até então é vulto.
Esta série fotográfica – desenvolvida em Portugal (2012-2014) em um período de exílio, quando estava desalojada de mim mesma – procura retratar a ausência de experiência, o encapsulamento urbano.