nº 21 ano 6 | Junho 2015
Especial

Plumas, pétalas & pedras

Por Robert Pechman

Corria o ano de 2014. O prédio da Reitoria resfolegava no esforço do alunato de aprender e apreender os saberes que evolavam de salas de aula plenas de racionalidades.

Manhã. Sala do Doutorado no IPPUR... Um curso pra lá de abstrato (Métodos e técnicas de Pesquisa) cuja intenção é instrumentalizar o aluno na elaboração de seu trabalho de tese. Por onde começar? Vislumbro que é por ali onde o aluno menos espera que vá ser demandado: pela criatividade.

O exercício em questão é escrever, é pensar, é elaborar. Mas de outra forma, trabalhar no impossível, no “que será, que será?”.

O estímulo vem do livro Seis propostas para o próximo milênio, de Ítalo Calvino. São cinco ensaios escritos por Calvino para falar da arte de escrever. Diz Calvino: “Para se alcançar a imprecisão desejada é preciso muita precisão”. E eu quero que os imprecisos alunos, correndo atrás do prejuízo da tese, ousem a imprecisão, a errância, para chegar a precisão? Não sei. O importante é desafiá-los com demandas inesperadas e com isso arrancar das suas vísceras alguma imagem da tese. E a partir disso ajudá-los a soprar o vento de suas caravelas.

Entre “ais” e “uis” tento explicar o exercício, o impossível.

Pensar e escrever. Duas questões a que ninguém escapa quando se trata de tese.

O exercício é tirado de um dos ensaios de Calvino: a leveza. Escrever/pensar com leveza.

O exercício: escrever sobre a leveza da pedra e a dureza da pétala.

Na aula seguinte, alunos alvoroçados, instigados, trazem seus escritos.

Deu de tudo: poemas, memórias afetivas, declarações de amor à sua cidade, reflexões sobre escultura, descrição de cenas de invasão da favela, observações do cotidiano na rua etc.

A compreensão do que foi pedido foi bastante díspara, mas, de alguma maneira, os textos moveram e comoveram os alunos (e a mim) e produziram estupor com aquilo que cada um pariu de suas entranhas e, que, no limite visava equacionar os modos de se fazer pesquisa.

Paro essa apresentação por aqui, na expectativa de que os textos falem por si mesmos. Acesse em:

http://www.observatoriodasmetropoles.net/download/anexo_secao_especial_n21_AC.pdf

Plumas, pétalas & pedras
Robert Pechman
é professor do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional (IPPUR/UFRJ).